OS SONHOS - 2ª parte

 Objetivos: 

1. Saber o que a alma faz durante o sono do corpo;

2. Distinguir os tipos de sonhos e o que os causam;

3. Perceber o fenômeno da emancipação durante a sonolência;

4. Entender sobre as imagens, inspirações e outras lembranças que temos durante o sono/sonolência.

           

Conteúdo:

No estudo sobre OS FENÔMENOS DE EMANCIPAÇÃO DA ALMA – SONHOS – 1ª parte - colocamos a questão abaixo e desenvolvemos as frases 1 e 2.

402. Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono?

1.  "Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília.

2.      Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro.

3.      Adquire maior potência e pode pôr-se em comunicação com outros Espíritos, quer neste mundo, quer noutro. *

4. Dizes frequentemente: Tive um sonho extravagante, um sonho horrível, mas absolutamente inverossímil. Enganas-te. É amiúde uma recordação dos lugares e das coisas que viste ou que verás em outra existência ou em outra ocasião.

* A resposta foi colocada nessa formatação para ser estudada didaticamente.

Continuamos o nosso estudo a partir da frase 3:

Frase 3: Sobre entrarmos em comunicação com outros Espíritos nesse e em outros mundos:

Continuando na questão 402 de O Livro dos Espíritos:

“Tiveram sonos inteligentes os Espíritos que, desencarnando, logo se desligam da matéria. Esses Espíritos, quando dormem, vão para junto dos seres que lhes são superiores. Com estes viajam, conversam e se instruem. Isto, pelo que concerne aos Espíritos elevados. Pelo que respeita ao grande número de homens que, morrendo, têm que passar longas horas na perturbação, esses vão, enquanto dormem, ou a mundos inferiores à Terra, onde os chamam velhas afeições, ou em busca de gozos quiçá mais baixos do que os em que aqui tanto se deleitam. Vão beber doutrinas ainda mais vis, mais ignóbeis, mais funestas do que as que professam entre vós.”
“Graças ao sono, os Espíritos encarnados estão sempre em relação com o mundo dos Espíritos.

Por isso é que os Espíritos superiores assentem, sem grande repugnância, em encarnar entre vós. Quis Deus que, tendo de estar em contato com o vício, pudessem eles ir retemperar-se na fonte do bem, a fim de igualmente não falirem, quando se propõem a instruir os outros. O sono é a porta que Deus lhes abriu, para que possam ir ter com seus amigos do céu; é o recreio depois do trabalho, enquanto esperam a grande libertação, a libertação final, que os restituirá ao meio que lhes é próprio.”

 

Frase 4: Sobre os sonhos incompreensíveis, temos ainda na questão 402 de O Livro dos Espíritos:

“Dizes frequentemente: Tive um sonho extravagante, um sonho horrível, mas absolutamente inverossímil. Enganas-te. É amiúde uma recordação dos lugares e das coisas que viste ou que verás em outra existência ou em outra ocasião. Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de quebrar seus grilhões e de investigar no passado ou no futuro.”

Comentário de Kardec à questão 402 de O Livro dos Espíritos:

“As singulares imagens do que se passa ou se passou em mundos desconhecidos, entremeados de coisas do mundo atual, é que formam esses conjuntos estranhos e confusos, que nenhum sentido ou ligação parecem ter.
A incoerência dos sonhos ainda se explica pelas lacunas que apresenta a recordação incompleta do que nos apareceu quando sonhávamos. É como se a uma narração se truncassem frases ou trechos ao acaso. Reunidos depois, os fragmentos restantes nenhuma significação racional teria.”

Então os sonhos são sempre lembrança do que acontece com alma quando ela se emancipa?

“O sonho é a lembrança do que o Espírito viu durante o sono. Notai, porém, que nem sempre sonhais, porque nem sempre vos lembrais do que vistes, ou de tudo o que haveis visto, enquanto dormíeis. Vossos sonhos nem sempre refletem a ação da alma em liberdade; são, muitas vezes, apenas a lembrança da perturbação que experimenta à sua partida ou no seu regresso ao corpo, acrescida ao que fizestes ou do que vos preocupa quando em vigília. A não ser assim, como explicaríeis os sonhos absurdos, que tanto os sábios, quanto as mais humildes e simples criaturas têm? Acontece também que os maus Espíritos se aproveitam dos sonhos para atormentar as almas fracas e pusilânimes.”

Além das intuições que temos ao acordar, oriundas das boas ou más experiencias que passamos durante o sono do corpo, como os sonhos podem ainda interferir em nossa vida?

Ainda na questão 402 temos a resposta a esse questionamento:

“E o que gera a simpatia na Terra é o fato de sentir-se o homem, ao despertar, ligado pelo coração àqueles com quem acaba de passar oito ou nove horas de ventura ou de prazer. Também as antipatias invencíveis se explicam pelo fato de sentirmos em nosso íntimo que os entes com quem antipatizamos têm uma consciência diversa da nossa. Conhecemo-los sem nunca os termos visto com os olhos. É ainda o que explica a indiferença; há homens que não cuidam de conquistar novos amigos, por saberem que muitos têm que os amam e lhes querem. Numa palavra: o sono influi mais do que supondes na vossa vida.

Vejamos agora por que nem sempre lembramos dos sonhos:

“403. Porque não nos lembramos sempre dos sonhos?
“Naquilo que chamas sono, só há o repouso do corpo, visto que o Espírito está constantemente em atividade. Recobra, durante o sono, um pouco da sua liberdade e se corresponde com os que lhe são caros, quer neste mundo, quer em outros. Mas como é pesada e grosseira a matéria que o compõe, o corpo tem dificuldade em conservar as impressões que o Espírito recebeu, porque a este não chegaram por intermédio dos órgãos corporais.”

Existe um texto muito interessante encontrado na Revista Espírita, de 1865, em que Kardec recebe informação de um médium em estado de sonambulismo. Kardec assim escreve:

“Entre os sonhos, uns há que têm um caráter de tal modo positivo que racionalmente não poderiam ser atribuídos a simples jogo da imaginação; tais são aqueles nos quais, ao despertar, adquire-se a prova da realidade do que se viu e em que absolutamente não se pensava. Os mais difíceis de explicar são os que nos apresentam imagens incoerentes, fantásticas, sem realidade aparente. Um estudo mais aprofundado do singular fenômeno das criações fluídicas sem dúvida pôr-nos-á no caminho.
Enquanto se espera, eis uma teoria que parece permitir um passo no assunto. Não a damos como absoluta, mas como fundada na lógica e podendo ser submetida a estudo.”

Allan Kardec nos faz conhecer essa teoria trazida por um médium. E assim ele continua o texto acima:

“Podemos, acrescenta ele (o médium), dividir os sonhos em três categorias caracterizadas pelo grau da lembrança que fica no estado de desprendimento no qual se acha o Espírito. São elas:

1.º ─ Os sonhos que são provocados pela ação da matéria e dos sentidos sobre o Espírito, isto é, aqueles em que o organismo representa um papel preponderante pela mais íntima união entre o corpo e o Espírito. A gente se lembra claramente e, por pouco desenvolvida que seja a memória, dele conserva uma impressão durável. 

2.º ─ Os sonhos que podem ser chamados mistos. Deles participam, ao mesmo tempo, a matéria e o Espírito. O desprendimento é mais completo. A gente se recorda, ao despertar, para esquecê-lo quase instantaneamente, a menos que uma particularidade venha despertar a lembrança. 

3.º ─ Os sonhos etéreos ou puramente espirituais. São produtos só do Espírito, que está desprendido da matéria, tanto quanto o pode estar na vida do corpo. A gente não se recorda, ou se resta uma vaga lembrança de que se sonhou, nenhuma circunstância poderia trazer à memória os incidentes do sono.”

No capítulo sobre a emancipação da alma, em O Livro dos Espíritos, Kardec também vai questionar sobre as interpretações que se dão dos sonhos:

“404. Que se deve pensar das significações atribuídas aos sonhos?
Os sonhos não são verdadeiros como o entendem os ledores de sorte, pois é absurdo crer-se que sonhar com tal coisa anuncia tal outra. São verdadeiros no sentido de que apresentam imagens que para o Espírito têm realidade, porém que, frequentemente, nenhuma relação guarda com o que se passa na vida corporal.”

Sobre os pressentimentos que não se confirmam:

405. Acontece com frequência verem-se em sonho coisas que parecem um pressentimento, mas que, afinal, não se confirma. A que se deve atribuir isto?
“Pode suceder que tais pressentimentos venham a se confirmar apenas na experiência do Espírito, e não na do corpo; isto é, o Espírito vê aquilo que deseja porque vai ao seu encontro. É preciso não esquecer que, durante o sono, a alma sempre está mais ou menos sob a influência da matéria e que, por conseguinte, nunca se liberta completamente de suas ideias terrenas, donde resulta que as preocupações do estado de vigília podem dar ao que se vê a aparência do que se deseja, ou do que se teme. A isto é que, em verdade, cabe chamar-se efeito da imaginação. Sempre que uma ideia nos preocupa fortemente, tudo o que vemos se nos mostra ligado a essa ideia.”

Podemos encontrar e saber o que outras pessoas fazem enquanto dormem?

406. Quando em sonho vemos pessoas vivas, muito nossas conhecidas, a praticarem atos de que absolutamente não cogitam, não é isso puro efeito de imaginação?
“De que absolutamente não cogitam, dizes. Que sabes a tal respeito? Os Espíritos dessas pessoas vêm visitar o teu como o teu os vai visitar, sem que saibas sempre aquilo em que eles pensam.”

Allan Kardec também pesquisa sobre o que acontece no estado que antecipa o sonho, ou estado de sonolência. Vejamos:

“407. É necessário o sono completo para a emancipação do Espírito?
Não; basta que os sentidos entrem em torpor para que o Espírito recobre a sua liberdade. Para se emancipar, ele se aproveita de todos os instantes de trégua que o corpo lhe concede. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, tornando-se tanto mais livre quanto mais fraco for o corpo.”

E Kardec faz o seguinte comentário à esta questão:

“Assim é que quando estamos apenas adormecidos, ou em simples modorra, frequentemente vemos imagens idênticas às que se apresentam nos sonhos.”

Kardec traz mais alguns questionamentos a respeito do que se passa conosco nos momentos de sonolência e também de sono, vejamos algumas dessas situações:

“408. Parece-nos algumas vezes ouvirmos em nós mesmos palavras pronunciadas distintamente e que nenhum nexo tem com o que nos preocupa. Qual a razão disso?
É fato: ouvis até mesmo frases inteiras, principalmente quando os sentidos começam a entorpecer-se. É, algumas vezes, fraco eco do que diz um Espírito que convosco se quer comunicar.”

E sobre as imagens que vemos:

409. Outras vezes, num estado que ainda não é bem o do adormecimento, estando com os olhos fechados, vemos imagens distintas, figuras cujas mínimas particularidades percebemos. Que há aí, efeito de visão ou de imaginação?
“Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de desprender-se. Transporta-se e vê. Se fosse completo o sono, já seria sonho.”

Sobre as ideias que temos como súbitas inspirações:

410. Dá-se também que, durante o sono, ou quando nos achamos apenas ligeiramente adormecidos, acodem-nos ideias que nos parecem excelentes e que se nos apagam da memória, apesar dos esforços que façamos para retê-las. Donde vêm essas ideias?
“Provêm da liberdade do Espírito que se emancipa e que, emancipado, goza de mais faculdades. Também são, frequentemente, conselhos que outros Espíritos dão.” 
 
410. a) – De que servem essas ideias e essesconselhos, se lhes perdemos a lembrança, não os podendo aproveitar?
“Algumas vezes essas ideias mais dizem respeito ao mundo dos Espíritos do que ao mundo corpóreo. Com mais frequência, porém, se o corpo as esquece, o Espírito as retém, e voltam no momento necessário, como uma inspiração súbita.”

Sobre o conhecimento do momento da morte:

411. Estando desprendido da matéria e atuando como Espírito, sabe o Espírito encarnado qual será a época de sua morte?
“Frequentemente acontece pressenti-la. Algumas vezes também sucede ter nítida consciência dessa época, o que dá lugar a que, em estado de vigília, tenha intuição do fato. Por isso é que algumas pessoas preveem com grande exatidão a data em que virão a morrer.”

E concluímos com a interessante questão sobre se nos cansamos quando dormimos:

412. Pode a atividade do Espírito durante o repouso ou sono corporal fatigar o corpo?
“Pode, pois que o Espírito se acha preso ao corpo qual balão cativo ao poste. Assim como as sacudiduras do balão abalam o poste, a atividade do Espírito reage sobre o corpo e pode fatigá-lo.”

Essas questões, tão bem elucidadas pelos Espíritos e comentadas por Allan Kardec, nos dão a verdadeira compreensão dos sonhos, desfazendo tantas superstições e misticismos a respeito, e comprovando, de forma lógica e inequívoca, que somos Espíritos encarnados, em constante contato com o mundo espiritual, nos ajudando em nossas experiências corporais para crescimento espiritual.

 

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Ver este texto também em: Roteiros de Estudos do IDEAK


Obras utilizadas:

1.       O Livro dos Espíritos

2.       Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos

 

 

 

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