SONAMBULISMO - 2ª parte

 Objetivos específicos:

1. Compreender a origem e abrangência do saber dos sonâmbulos;

2. Entender o que é sonambulismo mediúnico.

3. Perceber o quão importante é o estudo sobre os fenômenos de emancipação da alma pelo sonambulismo.

 

Conteúdo:

Vimos no texto sobre SONAMBULISMO que esse fenômeno pode ser espontâneo ou provocado pelo magnetismo, pelos Espíritos ou por magnetizadores. 

Continuando o estudo sobre sonambulismo, passemos às questões sobre o saber dos sonâmbulos quando estão emancipados. É dado a todos verem e saberem tudo?

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo XIV – Dos médiuns > Médiuns sonambúlicos > 172
“O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito; é sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. O que ele externa tira-o de si mesmo; suas ideias são, em geral, mais justas do que no estado normal, seus conhecimentos mais dilatados, porque tem livre a alma. Numa palavra, ele vive antecipadamente a vida dos Espíritos.”

Qual o alcance do saber do sonâmbulo (em estado de emancipação da alma)?

O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Sonambulismo. > 431
“431. Qual a origem das ideias inatas do sonâmbulo, e como pode falar com exatidão de coisas que ignora quando desperto, de coisas que estão mesmo acima de sua capacidade intelectual?

"É que o sonâmbulo possui mais conhecimentos do que os que lhe supões. Apenas, tais conhecimentos dormitam, porque, por demasiado imperfeito, seu envoltório corporal não lhe permite rememorá-los. Que é, afinal, um sonâmbulo? Espírito, como nós[1], e que se encontra encarnado na matéria para cumprir a sua missão, despertando dessa letargia quando cai em estado sonambúlico. Já te temos dito, repetidamente, que renascemos muitas vezes. Essa mudança de condição é que, ao sonâmbulo, como a qualquer Espírito, ocasiona a perda material do que haja aprendido em precedente existência. Entrando no estado a que chamas crise, lembra-se do que sabe, mas sempre de modo incompleto. Sabe, mas não poderia dizer donde lhe vem o que sabe, nem como possui os conhecimentos que revela. Passada a crise, toda recordação se apaga e ele volve à obscuridade.”

Kardec também esclarece sobre o assunto no seguinte texto:

O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da segunda vista. > 455
“Em cada uma de suas existências corporais o Espírito adquire um acréscimo de conhecimentos e de experiência. Esquece-os parcialmente, quando encarnado em matéria por demais grosseira, porém deles se recorda como Espírito. Assim é que certos sonâmbulos revelam conhecimentos acima do grau da instrução que possuem e mesmo superiores às suas aparentes capacidades intelectuais. Portanto, da inferioridade intelectual e científica do sonâmbulo, quando desperto, nada se pode inferir com relação aos conhecimentos que porventura revele no estado de lucidez. Conforme as circunstâncias e o fim que se tenha em vista, ele os pode haurir da sua própria experiência, da sua clarividência relativa às coisas presentes, ou dos conselhos que receba de outros Espíritos. Mas, podendo o seu próprio Espírito ser mais ou menos adiantado, possível lhe é dizer coisas mais ou menos certas.”

Além de esclarecer de onde os sonâmbulos haurem conhecimentos que ordinariamente não possuem quando despertos, Kardec faz um importante comentário de Kardec na questão 431 em O Livro dos Espíritos:

“Mostra a experiência que os sonâmbulos também recebem comunicações de outros Espíritos, que lhes transmitem o que devam dizer e suprem à incapacidade que denotam.”

Além de poderem manter conversação com os encarnados, os sonâmbulos podem também transmitir comunicações dos Espíritos! É o sonambulismo mediúnico!

Em O Livro dos Médiuns temos a seguinte explicação sobre esse fenômeno:

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo XVI – Dos médiuns especiais > Quadro sinótico das diferentes espécies de médiuns > 190. Médiuns especias para efeitos intelectuais. Aptidões diversas.
“Médiuns sonâmbulos: os que, em estado de sonambulismo, são assistidos por Espíritos.”

E especificam as características do sonambulismo mediúnico no seguinte texto:

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo XIV – Dos médiuns > Médiuns sonambúlicos > 172
“172. Pode considerar-se o sonambulismo uma variedade da faculdade mediúnica, ou, melhor, são duas ordens de fenômenos que frequentemente se acham reunidos.

(...) O Espírito que se comunica com um médium comum também o pode fazer com um sonâmbulo; dá-se mesmo que, muitas vezes, o estado de emancipação da alma facilita essa comunicação. Muitos sonâmbulos veem perfeitamente os Espíritos e os descrevem com tanta precisão, como os médiuns videntes. Podem confabular com eles e transmitir-nos seus pensamentos. O que dizem, fora do âmbito de seus conhecimentos pessoais, lhes é com frequência sugerido por outros Espíritos.”

Com essa informação, podemos então resumir que o que o sonâmbulo informa, além dos seus conhecimentos da presente vida, podem ser conhecimentos obtidos em outras vidas, como pode também ser informação de Espíritos, se comunicando pelo sonâmbulo-médium.

Segue um exemplo que Kardec nos oferece acerca do conhecimento de um Espírito transmitido através de um sonâmbulo:

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo XIV – Dos médiuns > Médiuns sonambúlicos > 173
“173. Um de nossos amigos tinha como sonâmbulo um rapaz de 14 a 15 anos, de inteligência muito vulgar e instrução extremamente escassa. Entretanto, no estado de sonambulismo, deu provas de lucidez extraordinária e de grande perspicácia. Excelia, sobretudo, no tratamento das enfermidades e operou grande número de curas consideradas impossíveis. Certo dia, dando consulta a um doente, descreveu a enfermidade com absoluta exatidão.

–– Não basta, disseram-lhe, agora é preciso que indiques o remédio. Não posso, respondeu, meu anjo doutor não está aqui. Quem é esse anjo doutor de quem falas? — O que dita os remédios. — Não és tu, então, que vês os remédios? — Oh! não; estou a dizer que é o meu anjo doutor quem mos dita.

Assim, nesse sonâmbulo, a ação de ver o mal era do seu próprio Espírito que, para isso, não precisava de assistência alguma; a indicação, porém, dos remédios lhe era dada por outro. Não estando presente esse outro, ele nada podia dizer. Quando só, era apenas sonâmbulo; assistido por aquele a quem chamava seu anjo doutor, era sonâmbulo-médium.”

Contudo, Kardec faz questão de esclarecer que nem sempre a comunicação do sonâmbulo é originada de um Espírito estranho. Na Revista Espírita de 1858, em um texto publicado no mês de novembro, sobre a Independência sonambúlica, encontramos dois casos de sonambulismo magnético em que o Espírito só transmite seu próprio pensamento. E Kardec assim conclui:

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1858 > Novembro > Independência sonambúlica
“Relatando estes dois casos, ─ e poderíamos aduzir muitos outros ─ nosso objetivo foi provar que a clarividência sonambúlica nem sempre é reflexo de um pensamento estranho. Assim, o sonâmbulo pode ter uma lucidez própria, absolutamente independente.

Vejamos agora sobre o que ocorre com o corpo do sonâmbulo enquanto ele se encontra emancipado. O sonâmbulo se ressente no corpo das atividades que empreende durante sua emancipação?

O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da segunda vista. > 455
“No caso de visão à distância, o sonâmbulo não vê as coisas de onde está o seu corpo, como por meio de um telescópio. Vê-as presentes, como se se achasse no lugar onde elas existem, porque sua alma, em realidade, lá está. Por isso é que seu corpo fica como que aniquilado e privado de sensação, até que a alma volte a habitá-lo novamente. Essa separação parcial da alma e do corpo constitui um estado anormal, suscetível de duração mais ou menos longa, porém não indefinida. Daí a fadiga que o corpo experimenta após certo tempo, mormente quando a alma se entrega a um trabalho ativo.”

E sobre as sensações que o sonâmbulo sente no corpo, durante a emancipação:

O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Sonambulismo. > 437
“437. Dado que, nos fenômenos sonambúlicos, é a alma que se transporta, como pode o sonâmbulo experimentar no corpo as sensações do frio e do calor existentes no lugar onde se acha sua alma, muitas vezes bem distante do seu corpo?
A alma, em tais casos, não deixa inteiramente o corpo; conserva-se-lhe presa pelo laço que os liga e que então desempenha o papel de condutor das sensações. Quando duas pessoas se comunicam de uma cidade para outra, por meio da eletricidade, esta constitui o laço que lhes liga os pensamentos. Daí vem que confabulam como se estivessem ao lado uma da outra.”

Agora passemos para informações diversas sobre o sonambulismo.

A emancipação da alma através do sonambulismo espontâneo ou mediúnico tem relação com estado
evolutivo do sonâmbulo ou sonâmbulo-médium?

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo XIV – Dos médiuns > Médiuns sonambúlicos > 174
“174. A lucidez sonambúlica é uma faculdade que se radica no organismo e que independe, em absoluto, da elevação, do adiantamento e mesmo do estado moral do indivíduo. Pode, pois, um sonâmbulo ser muito lúcido e ao mesmo tempo incapaz de resolver certas questões, desde que seu Espírito seja pouco adiantado. O que fala por si próprio pode, portanto, dizer coisas boas ou más, exatas ou falsas, demonstrar mais ou menos delicadeza e escrúpulo nos processos de que use, conforme o grau de elevação, ou de inferioridade do seu próprio Espírito.
A assistência então de outro Espírito pode suprir-lhe as deficiências. Mas, um sonâmbulo, tanto como os médiuns, pode ser assistido por um Espírito mentiroso, leviano, ou mesmo mau. Aí, sobretudo, é que as qualidades morais exercem grande influência, para atraírem os bons Espíritos.”

As percepções e memória do sonâmbulo são iguais às que o Espírito tem após a morte do corpo físico e do período de perturbação espiritual?

O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Sonambulismo. > 434
“434. As faculdades de que goza o sonâmbulo são as que tem o Espírito depois da morte?
Somente até certo ponto, pois cumpre se atenda à influência da matéria a que ainda se acha ligado.”

Allan Kardec, em seus quatorze anos de pesquisa e confecção das obras da Doutrina Espírita, teve a oportunidade de presenciar vários fenômenos de emancipação da alma, e observou que os sonâmbulos apresentavam diferentes percepções do que viam e até mesmo se enganavam quanto à compreensão do que viam. Por isso Kardec pergunta:

O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Sonambulismo. > 430
“430. Pois que a sua clarividência é a de sua alma ou de seu Espírito, por que é que o sonâmbulo não vê tudo e tantas vezes se engana?
Primeiramente, aos Espíritos imperfeitos não é dado verem tudo e tudo saberem. Não ignoras que ainda partilham dos vossos erros e prejuízos. Depois, quando unidos à matéria não gozam de todas as suas faculdades de Espírito. Deus outorgou ao homem a faculdade sonambúlica para fim útil e sério, não para que se informe do que não deva saber. Eis por que os sonâmbulos nem tudo podem dizer.

Encerramos trazendo o pensamento do nosso nobre Allan Kardec acerca do quanto a ciência pode se beneficiar de fenômenos espíritas, especialmente do sonambulismo. Assim ele escreve:

O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da segunda vista. > 455
“Para o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que um fenômeno fisiológico, é uma luz projetada sobre a psicologia. É aí que se pode estudar a alma, porque é onde esta se mostra a descoberto.”

E escreve também uma crítica àqueles que tentaram experimentar o sonambulismo de forma a obter resultados de uma ciência exata:

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1858 > Novembro > Independência sonambúlica
“Muita gente acreditou, como o faz ainda hoje com as manifestações espíritas, que o sonambulismo pudesse ser experimentado como uma máquina, sem que se levasse em conta as condições especiais do fenômeno. Eis por que, não tendo obtido resultados satisfatórios no momento oportuno, concluíram pela negação. Fenômenos tão delicados exigem uma observação longa, assídua e perseverante, a fim de se lhes captarem as nuanças, por vezes fugidias.”

Nesse nosso estudo percebemos a necessidade de conhecer e compreender o que é o sonambulismo. Como ele se apresenta ou não conforme a organização física do encarnado, e que nem todos os sonâmbulos apresentam as mesmas características em suas faculdades, pois nem todos possuem o mesmo alcance de visão (lucidez), nem todos são passíveis de serem magnetizados, nem todos recebem sempre comunicações de Espíritos, nem todos possuem os mesmos conhecimentos, etc.

Tudo isso diz respeito a estarmos lidando com almas, individualidades, e que, por isso mesmo, não se pode esperar respostas iguais, como se fossem objetos de ensaios laboratoriais. 

O Hipnotismo, termo utilizado na academia, foi mencionado por Kardec, e colocamos aqui uma crítica que ele faz, lamentando e alertando ao mesmo tempo a não investigação criteriosa da ciência sobre esse fenômeno. Vejamos:

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1865 > Outubro > Novos estudos sobre espelhos mágicos ou psíquicos > Consequências da explicação precedente
“Há alguns anos, um médico descobriu que pondo entre os olhos, na raiz do nariz, uma tampa de garrafa, uma bola de cristal ou de metal brilhante e fazendo convergirem os raios visuais para esse objeto durante algum tempo, a pessoa entrava numa espécie de estado cataléptico, durante o qual se manifestavam algumas das faculdades que se notam nalguns sonâmbulos, entre outras a insensibilidade e a visão à distância através dos corpos opacos, e que esse estado cessava pouco a pouco, após a retirada do objeto. Evidentemente era um efeito magnético, produzido por um corpo inerte. Que papel fisiológico representa o reflexo brilhante nesse fenômeno? É o que ignoramos. Mas foi constatado que se essa condição é necessária na maioria dos casos, mas não sempre, e que o mesmo efeito é produzido em certos indivíduos com o auxílio de objetos moles.
Esse fenômeno, ao qual se deu o nome de hipnotismo, fez furor nos corpos científicos. Experimentaram. Uns tiveram sucesso, outros não, como devia ser, pois as aptidões não eram as mesmas em todos os pacientes. Se a coisa fosse excepcional, certamente valeria a pena ser estudada. Mas, é lamentável dizer, a partir de quando perceberam que era uma porta secreta pela qual o magnetismo e o sonambulismo iriam penetrar, sob outra forma e outro nome, no santuário da ciência oficial, não mais se tratou de hipnotismo (Vide Revista Espírita de janeiro de 1860).”

 

SONAMBULISMO - 1ª parte

 

Objetivos específicos:

1. Saber o que é sonambulismo;

2. Diferenciar sonambulismo de sonho;

3. Diferenciar sonambulismo natural do magnético;

4. Entender o que ocorre com o corpo durante o sonambulismo;

5. Compreender sobre a visão e o saber dos sonâmbulos;

                                  

Conteúdo:

Outra forma interessante que a alma tem de se emancipar é através do sonambulismo.

Segue o conceito de sonambulismo escrito por Allan Kardec:

         Instruções práticas sobre as manifestações espíritas > Vocabulário espírita > Sonambulismo

SONAMBULISMO – do lat. somnus, o sono e ambulare, andar, passear. Estado de emancipação da alma mais completo do que no sonho. (Vide Sonho). O sonho é um sonambulismo imperfeito. No sonambulismo a lucidez[1] da alma, isto é, a sua faculdade de ver[2], que é um dos atributos de sua natureza, é mais desenvolvida: ela vê as coisas com mais precisão e clareza; o corpo pode agir sob o impulso da vontade da alma. O esquecimento absoluto no momento de despertar é um dos sinais característicos do verdadeiro sonambulismo, porque a independência da alma e do corpo é mais completa do que no sonho.

No conceito acima, além da definição sobre sonambulismo, Allan Kardec fornece diferenças básicas de emancipações da alma através do sono e do sonambulismo.

Assim, mediante o texto acima, destacamos:

1.   A faculdade que a alma tem de ver durante o sonambulismo é mais desenvolvida do que no sonho comum;
2.   O corpo pode agir conforme a vontade da alma durante o sonambulismo;
3.   No sonambulismo o esquecimento do que a alma vivenciou é absoluto quando se acorda.

Allan Kardec também aborda sobre algumas características do sonambulismo no comentário que faz na questão 425 de O Livro dos Espíritos:

“No sonambulismo, o Espírito está na posse plena de si mesmo. Os órgãos materiais, achando-se de certa forma em estado de catalepsia, deixam de receber as impressões exteriores. Esse estado se apresenta principalmente durante o sono, ocasião em que o Espírito pode abandonar provisoriamente o corpo, por se encontrar este gozando do repouso indispensável à matéria. Quando se produzem os fatos do sonambulismo, é que o Espírito, preocupado com uma coisa ou outra, se aplica a uma ação qualquer, para cuja prática necessita de utilizar-se do corpo.
Nos sonhos de que se tem consciência, os órgãos, inclusive os da memória, começam a despertar. Recebem imperfeitamente as impressões produzidas por objetos ou causas externas e as comunicam ao Espírito, que, então, também em repouso, só experimenta, do que lhe é transmitido, sensações confusas e, amiúde, desordenadas, sem nenhuma aparente razão de ser, mescladas, que se apresentam de vagas recordações, quer da existência atual, quer de anteriores. Facilmente, portanto, se compreende por que os sonâmbulos nenhuma lembrança guarda do que se passou enquanto estiveram no estado de sonambulismo, e porque os sonhos de que se conserva memória as mais das vezes não têm sentido. Digo as mais das vezes, porque também sucede serem a consequência de lembrança exata de acontecimentos de uma vida anterior e até, em certos casos, uma espécie de intuição do futuro.”

Bastante esclarecedor o comentário de Kardec, ao explicar que a lembrança dos sonhos só é possível quando os órgãos recebem, mesmo imperfeitamente, impressões exteriores, impressões estas que só acontecem quando o corpo começa a despertar, portanto não estando mais em estado de sonambulismo, pois este só se dá quando os órgãos estão como que catalépticos.

Kardec questionou aos Espíritos o que possibilita que a clarividência sonambúlica seja mais ou menos desenvolvida em algumas pessoas:

“433. O desenvolvimento maior ou menor da clarividência sonambúlica depende da organização física, ou só da natureza do Espírito encarnado?

De uma e outra. Há disposições físicas que permitem ao Espírito desprender-se mais ou menos facilmente da matéria.”

A mesma ideia aqui desenvolvida é trazida na seguinte questão:

"455. Os fenômenos do sonambulismo natural se produzem espontaneamente e independem de qualquer causa exterior conhecida. Mas, em certas pessoas dotadas de especial organização física, podem ser provocados artificialmente, pela ação do agente magnético."

Temos duas importantes informações nas respostas das questões 433 e 455 acima.

  1. A primeira é que existe algo determinante na organização física do sonâmbulo que possibilita o Espírito (alma + perispírito) se desprender mais facilmente da matéria, além da gradação da clarividência sonambúlica, conforme a própria pergunta de Kardec.
  2.  A segunda é que, como também acontece na catalepsia[3], o sonambulismo pode ser natural ou também pode ser provocado artificialmente através do magnetismo.

Vejamos as definições dessas duas formas de sonambulismo:

  • "Sonambulismo natural, o que é espontâneo e se produz sem provocação e sem a influência de um agente exterior.”
  • "Sonambulismo magnético ou artificial é aquele que é provocado pela ação que uma pessoa exerce sobre outra, por meio do fluido magnético que derrama sobre esta.”

Inicialmente estudaremos o sonambulismo natural:

“425. O sonambulismo natural tem alguma relação com os sonhos? Como explicá-lo?

É um estado de independência da alma mais completo do que o do sonho. Quando nele, suas faculdades adquirem maior amplitude. A alma tem então percepções de que não dispõe no sonho, que é um estado de sonambulismo imperfeito.”

Nas Revistas Espíritas escritas por Kardec, encontramos várias comunicações e casos sobre sonambulismo espontâneo, como o da Senhorita Julia, SenhorMorin, Sr. T..., que recomendamos a leitura integral dos relatos, devido a riqueza das observações feitas por Kardec.

Em um dos casos recomendados acima, vamos ver o sonâmbulo Sr. Morin transcrevendo ideias de um Espírito, o que Kardec veio a denominar de sonambulismo mediúnico, que abordaremos no próximo texto [4]

Outra observação é que o sonambulismo espontâneo pode ser provocado pelos Espíritos, como está claro no caso do Sr. T., citado acima.

A leitura sequenciada das Revistas Espíritas[5] dará ao estudioso da Doutrina Espírita a oportunidade de ler outros interessantes relatos a respeito do sonambulismo espontâneo.  

Vejamos agora algumas questões acerca do sonambulismo magnético:

426. O chamado sonambulismo magnético tem alguma relação com o sonambulismo natural?

“É a mesma coisa, com a diferença de ser provocado.”

Na definição do sonambulismo magnético vimos que este acontece através do fluido magnético de uma pessoa sobre a outra. Kardec então pergunta:
427. De que natureza é o agente que se chama fluido magnético?

Fluido vital, eletricidade animalizada, que são modificações do fluido universal.”

Ou seja, a magnetização é feita através do fluido vital, ou animalizado, encontrado nos Espíritos encarnados.

É necessário lembrar que, como já vimos acima, os Espíritos também podem provocar o sonambulismo, contudo, Kardec classifica este como espontâneo.

Continuemos com outras informações sobre sonambulismo:

O sonâmbulo faz contato com encarnados?

“No estado de desprendimento em que fica colocado, o Espírito do sonâmbulo entra em comunicação mais fácil com os outros Espíritos encarnados, ou não encarnados, comunicação que se estabelece pelo contato dos fluidos que compõem os perispíritos e servem de transmissão ao pensamento, como o fio elétrico. O sonâmbulo não precisa, portanto, que se lhe exprimam os pensamentos por meio da palavra articulada. Ele os sente e adivinha.”

Os sonâmbulos respondem a tudo? Tem conhecimentos ilimitados?

Continuemos com a questão 455 de O Livro dos Espíritos:

O poder da lucidez sonambúlica não é ilimitado. O Espírito, mesmo quando completamente livre, tem restringidos seus conhecimentos e faculdades conforme o grau de perfeição que haja alcançado.”

Vejamos algumas questões a respeito do que os sonâmbulos veem:

O sonambulo vê com os olhos do corpo?
“428. Qual a causa da clarividência sonambúlica?

Já o dissemos: é a alma que vê.”

“432. Como se explica a visão à distância em certos sonâmbulos?

Durante o sono, a alma não se transporta? O mesmo se dá no sonambulismo.”

“429. Como pode o sonâmbulo ver através dos corpos opacos?

Não há corpos opacos senão para os vossos grosseiros órgãos. Já precedentemente não dissemos que a matéria nenhum obstáculo oferece ao Espírito, que livremente a atravessa? Frequentemente ouvis o sonâmbulo dizer que vê pela fronte, pelo joelho, etc., porque, achando-vos inteiramente presos à matéria, não compreendeis lhe seja possível ver sem o auxílio dos órgãos. Ele próprio, pelo desejo que manifestais, julga precisar dos órgãos. Se, porém, o deixásseis livre, compreenderia que vê por todas as partes do seu corpo, ou, melhor falando, que vê de fora do seu corpo.”

Qual o alcance da visão dos sonâmbulos?

De uma causa única se originam a clarividência do sonâmbulo magnético e a do sonâmbulo natural. É um atributo da alma, uma faculdade inerente a todas as partes do ser incorpóreo que existe em nós e cujos limites não são outros senão os da própria alma. O sonâmbulo vê em todos os lugares aonde sua alma possa transportar-se, qualquer que seja a distância.

Sobre ver outros Espíritos:

“435. Pode o sonâmbulo ver os outros Espíritos?

A maioria deles os vê muito bem, dependendo do grau e da natureza da lucidez de cada um. Algumas vezes, porém, não percebem no primeiro momento que estão vendo Espíritos, e os tomam por seres corpóreos. Isso acontece principalmente aos que, nada conhecendo do Espiritismo, ainda não compreendem a essência dos Espíritos. O fato os espanta e os faz supor que têm diante da vista seres encarnados.”

E finaliza as questões sobre o que os sonâmbulos veem com a seguinte pergunta:

“436. O sonâmbulo que vê à distância, vê do ponto em que se acha o seu corpo, ou do em que está sua alma?

Por que esta pergunta, uma vez que sabes ser a alma que vê, e não o corpo?”

Continuaremos esse estudo no texto: Sonambulismo - 2ª parte


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Ver este texto também em: Roteiros de Estudos do IDEAK


Obras utilizadas:

1.       Instruções práticas sobre as manifestações espíritas

2.       O Livro dos Espíritos

3.       O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores

 

 

 

Sugestões de Materiais Complementares

https://www.kardecplay.net/pt/video/48-sonambulismo

https://www.kardecplay.net/pt/video/51-resumo-teorico-do-sonambulismo-do-extase-e-da-segunda-vista

 



[1] “LUCIDEZ – Clarividência, faculdade de ver sem auxílio dos órgãos da visão. É uma faculdade inerente à natureza mesma da alma ou do Espírito, e que reside em todo o seu ser. Por isso, em todos os casos em que há emancipação da alma, o homem tem percepções independentes dos sentidos. No estado corpóreo normal a faculdade de ver é limitada pelos órgãos materiais; desprendida desse obstáculo, ela não mais se acha circunscrita; estende-se por toda a parte onde a alma exerce a sua ação. Tal é a causa da visão à distância, de que desfrutam certos sonâmbulos. Veem-se no próprio local que observam, ainda que a milhares de quilômetros, porque, se ali não se acha o corpo, a alma realmente está. Pode, pois, dizer-se que o sonâmbulo vê pela luz da alma. O vocábulo clarividência é mais geral. Lucidez se diz mais particularmente da clarividência sonambúlica. Um sonâmbulo é mais ou menos lúcido, conforme seja mais ou menos completa a emancipação da alma.” - https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/890/instrucoes-praticas-sobre-as-manifestacoes-espiritas/1270/vocabulario-espirita/sonambulismo

 [2] Todos os grifos são nossos

[3] Ver : OS FENÔMENOS DE EMANCIPAÇÃO DA ALMA –  LETARGIA E CATALEPSIA

[4] Ver : OS FENÔMENOS DE EMANCIPAÇÃO DA ALMA –  SONAMBULISMO 2ª parte

[5] Revistas Espíritas – escritas por Allan Kardec, durante os anos de 1858 a 1869. Ver www.kardecpedia.com

 

DUPLA VISTA

 

Objetivos

1.     Definir o que é segunda vista;

2.     Entender o que causa a segunda vista;

3.     Perceber como a segunda vista pode variar entre os indivíduos;

4.     Saber as características da segunda vista.


Conteúdo:

Uma das maneiras da alma se libertar, quando estamos encarnados é a denominada por Allan Kardec de Segunda vista ou Dupla Vista

Lembramos que essa libertação é apenas parcial visto que libertação total só ocorre quando o corpo morre. Por isso, Kardec denominou de estados de emancipação da alma, conforme explica no texto abaixo:

A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo > Os milagres > Capítulo XIV - Os fluidos > II. Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais > Vista espiritual ou psiquíca. Dupla vista. Sonambulismo. Sonhos > 23
“23. Embora, durante a vida, o Espírito se encontre preso ao corpo pelo perispírito, não se lhe acha tão escravizado, que não possa alongar a cadeia[1] que o prende e transportar-se a um ponto distante, quer sobre a Terra, quer do espaço. Repugna ao Espírito estar ligado ao corpo, porque a sua vida normal é a de liberdade e a vida corporal é a do servo preso à gleba.”

No presente estudo, vamos trazer os textos da Doutrina Espírita escritos por Kardec, sobre a segunda vista ou dupla vista.

Na seguinte pergunta, Kardec questionou a respeito da relação entre as formas de emancipação da alma:

“447. O fenômeno a que se dá a designação de segunda vista[2] tem alguma relação com o sonho e o sonambulismo?

Tudo isso é uma só coisa. O que chamas segunda vista é ainda resultado da libertação do Espírito, sem que o corpo seja adormecido. A segunda vista é a vista da alma.”

E assim Kardec definiu a segunda vista:

“VISTA (SEGUNDA) – Efeito da emancipação da alma, que se manifesta em estado de vigília. Faculdade de ver as coisas ausentes como se estivessem presentes. Os que são dotados dessa faculdade não veem pelos olhos, mas pela alma, que parece a imagem dos objetos em qualquer parte para onde se transporte e como que por uma espécie de miragem. Essa faculdade não é permanente: certas pessoas a possuem, mau grado seu; ela lhes parece um efeito natural e produz aquilo a que se chama visões.”

Essa característica de estar acordado e em emancipação, que é própria da segunda vista, é muito interessante! São visões que certas pessoas têm enquanto estão acordadas, apesar de quererem ou não e mesmo sem saberem que possuem.

O espiritismo descobriu a segunda vista?

“O sonambulismo natural e artificial, o êxtase e a segunda vista não passam de variedades ou modificações de uma mesma causa. Esses fenômenos, como os sonhos, estão na natureza. Tal a razão por que existiram em todos os tempos. A história mostra que foram sempre conhecidos e até explorados desde a mais remota antiguidade e neles se nos depara a explicação de uma imensidade de fatos que os preconceitos fizeram fossem tidos por sobrenaturais.”

Essas informações valiosas trazidas pelos Espíritos e tão bem explicadas por Allan Kardec nos possibilita entender fatos, situações e tantos enganos que ocorreram e ainda ocorrem em nossa humanidade terrestre. Kardec também disserta sobre isso:

“Estando em a Natureza, pois depende da constituição do Espírito, essa faculdade existiu, portanto, em todos os tempos; mas, como todos os efeitos cuja causa é desconhecida, a ignorância o atribuía a causas sobrenaturais. Os que a possuíam em grau eminente e podiam dizer, saber e fazer coisas acima do alcance vulgar, ou eram acusados de pactuar com o diabo, qualificados de feiticeiros e queimados vivos, ou foram beatificados, como tendo o dom dos milagres, quando, na realidade, tudo se reduzia à aplicação de uma lei natural.”

Embora sabendo que a emancipação da alma seja uma lei da natureza, pois que o Espírito sempre está ativo e deseja estar livre, e que é pelo perispírito que a alma vê, a segunda vista acontece para todas as pessoas? É espontânea ou podemos provocá-la? É igual ou diferente entre as pessoas? Vejamos:

“Essa faculdade, muito mais comum do que se pensa, apresenta-se com graus de intensidade e aspectos muito diversos, conforme os indivíduos: nuns ela se manifesta pela percepção permanente ou acidental, mais ou menos clara, das coisas afastadas; noutros, pela simples intuição dessas mesmas coisas; noutros, enfim, pela transmissão do pensamento. É notável que muitos a possuem sem suspeitá-lo, e sobretudo sem se darem conta, pois ela é inerente ao seu ser, e lhes parece tão natural como ver pelos olhos; muitas vezes, mesmo, confundem essas duas percepções. Se se lhes pergunta como veem, a maior parte do tempo não sabem explicar melhor do que explicariam o mecanismo da visão ordinária.”

Como segunda vista é inerente ao ser, ou seja, existem pessoas que já nascem com essa faculdade, ela se manifesta espontaneamente?

“449. A segunda vista desenvolve-se espontaneamente ou por efeito da vontade de quem a possui como faculdade?

As mais das vezes é espontânea, porém com frequência também a vontade desempenha importante papel no seu desenvolvimento. Toma, para exemplo, de umas dessas pessoas a quem se dá o nome de ledoras de sorte, algumas das quais dispõem desse poder, e verás que é a vontade que as auxilia a entrar no estado de segunda vista e no que chamas visão.”

“450. A segunda vista é suscetível de desenvolver-se pelo exercício?
Sim, do trabalho sempre resulta o progresso e a dissipação do véu que encobre as coisas.”

Observemos que Kardec e os Espíritos falam em “desenvolver”. Desenvolver algo que existe, e não provocar a sua existência.

Continuamos com a mesma questão 450:

“450.a.  Esta faculdade tem alguma ligação com a organização física?

Incontestavelmente, o organismo influi para a sua existência. Há organismos que lhe são refratários.”

Essa mesma informação foi dada pelos Espíritos quando Kardec escreveu sobre o sonambulismo[3], ou seja, que essas faculdades existem conforme uma disposição orgânica, isto é, que depende do organismo. Por isso, só é passível de ser desenvolvida em quem possua essa condição no seu organismo.

Mediante a informação de que a faculdade da dupla vista depende do organismo, e, baseado em suas observações e experiências, natural é que Kardec questione sobre a hereditariedade da referida faculdade:

Por semelhança do organismo, que se transmite como as outras qualidades físicas. Depois, a faculdade se desenvolve por uma espécie de educação, que também se transmite de um a outro.”

Vejamos agora como acontece a segunda vista:

“É nas propriedades e nas irradiações do fluido perispirítico que se tem de procurar a causa da dupla vista, ou vista espiritual, a que também se pode chamar vista psíquica, da qual muitas pessoas são dotadas, frequentemente a seu mau grado, assim como da vista sonambúlica.

O perispírito é o órgão sensitivo do Espírito, por meio do qual este percebe coisas espirituais que escapam aos sentidos corpóreos. Pelos órgãos do corpo, a visão, a audição e as diversas sensações são localizadas e limitadas à percepção das coisas materiais; pelo sentido espiritual, ou psíquico, elas se generalizam: o Espírito vê, ouve e sente, por todo o seu ser, tudo o que se encontra na esfera de irradiação do seu fluido perispirítico.”

Podemos entender que, como o Espírito vê por todo o seu perispírito, basta que o seu perispírito se irradie para que o Espírito possa ver o que se encontra distante do corpo físico.

Ainda sobre como ocorre a segunda vista:

“A visão espiritual é, na realidade, o sexto sentido ou sentido espiritual, de que tanto se falou e que, como os outros sentidos, pode ser mais ou menos obtuso ou sutil. Ele tem como agente o fluido perispiritual, como a visão física tem por agente o fluído luminoso. Assim como a irradiação do fluído luminoso leva a imagem dos objetos à retina, a irradiação do fluido perispiritual traz à alma certas imagens e certas impressões.”

E a explicação para um fato curioso:

“Na dupla vista ou percepção pelo sentido psíquico, ele não vê com os olhos do corpo, embora, muitas vezes, por hábito, dirija o olhar para o ponto que lhe chama a atenção. Vê com os olhos da alma e a prova está em que vê perfeitamente bem com os olhos fechados e vê o que está muito além do alcance do raio visual.”

Vejamos outro questionamento muito interessante:

A moléstia, a proximidade do perigo, uma grande comoção podem desenvolvê-la. O corpo, às vezes, vem a achar-se num estado especial que faculta ao Espírito ver o que não podeis ver com os olhos carnais.”

Comentário de Allan Kardec a esta questão:

“Nas épocas de crises e de calamidades, as grandes emoções, todas as causas, enfim, de superexcitação do moral provocam às vezes o desenvolvimento da segunda vista. Parece que a Providência, quando um perigo nos ameaça, nos dá o meio de conjurá-lo. Todas as seitas e partidos perseguidos oferecem múltiplos exemplos desse fato.”

A pessoa que tem uma visão pela dupla vista lembra do que viu depois que a visão cessa?

Nem sempre. Consideram isso coisa perfeitamente natural e muitos creem que, se cada um observasse o que se passa consigo, todos verificariam que são como eles.”

“454. Poder-se-ia atribuir a uma espécie de segunda vista a perspicácia de algumas pessoas que, sem nada apresentarem de extraordinário, apreciam as coisas com mais precisão do que outras?

É sempre a alma a irradiar mais livremente e a apreciar melhor do que sob o véu da matéria.”

 “a) – Pode essa faculdade, em alguns casos, dar a presciência das coisas?

Pode. Também dá os pressentimentos, pois que muitos são os graus em que ela existe, sendo possível que num mesmo indivíduo exista em todos os graus, ou em alguns somente.”

Estando a pessoa acordada (em vigília), o que ocorre com ela quando a segunda vista acontece?

“No momento em que o fenômeno da segunda vista se produz, o estado físico do indivíduo se acha sensivelmente modificado. O olhar apresenta alguma coisa de vago. Ele olha sem ver. Toda a sua fisionomia reflete uma como exaltação. Nota-se que os órgãos visuais se conservam alheios ao fenômeno, pelo fato de a visão persistir, malgrado a oclusão dos olhos.

Aos dotados desta faculdade ela se afigura tão natural, como a que todos temos de ver. (...) De ordinário, o esquecimento se segue a essa lucidez passageira, cuja lembrança, tornando-se cada vez mais vaga, acaba por desaparecer, como a de um sonho.

O poder da segunda vista varia, indo desde a sensação confusa até a percepção clara e nítida das coisas presentes ou ausentes. Quando rudimentar, confere a certas pessoas o tato, a perspicácia, uma certa segurança nos atos, a que se pode dar o qualificativo de precisão de golpe de vista moral. Um pouco mais desenvolvida, desperta os pressentimentos. Mais desenvolvida ainda, mostra os acontecimentos que deram ou estão para dar-se.”

Recomendamos a leitura de alguns exemplos que Kardec nos oferece sobre a faculdade da dupla vista, como:

Visões, cortejo fúnebre dos tios, o roubo da taça pelos irmãos de José, dupla vista permanente em uma senhora, entrada de Jesus em Jerusalém, beijo de Judas, pesca milagrosa, vocação de Pedro, André, Tiago, João e Mateus.


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Ver este texto também em: Roteiros de Estudos do IDEAK


Obras utilizadas:

1.       O Livro dos Espíritos

2.       Instruções práticas sobre as manifestações espíritas

3.       Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos

4.       A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo

 

 

 

Sugestões de Materiais Complementares




[1] A “cadeia” é uma metáfora em relação ao perispírito se encontrar ligado (unido) ao corpo durante a vida.

[2] Todos os grifos são nossos

[3] Ver OS FENÔMENOS DE EMANCIPAÇÃO DA ALMA