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DEUS é o princípio primordial da Doutrina Espírita. A fé em Deus, em sua providência e a compreensão que suas leis regem o Universo, sustentam todos os outros princípios do Espiritismo. É sobre Deus a primeira questão enumerada do
primeiro livro fundamental do Espiritismo, O Livro dos Espíritos. Questão que Allan
Kardec faz, sob forte inspiração e compreensão do ensino dado pelos Espíritos:
Deus
é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.
“Que é Deus?
Uma resposta curta e grandiosa, que nos remete à
compreensão de Deus como criador de todas as criaturas inteligentes do
Universo, bem como a causa da existência de todo universo material.Na questão 27 de O Livro dos Espíritos, temos a
oportunidade de compreender ao que alude essa resposta acima:
O Livro dos Espíritos > Parte primeira — Das
causas primárias > Capítulo II - Dos elementos gerais do universo >
Espírito e matéria. > 27
“Há então dois
elementos gerais do universo: a matéria e o espírito?
Sim, e acima de tudo
Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem
o princípio de tudo o que existe, a trindade universal.”
Após essa conceituação, que nos traz uma forma primorosa
para se entender o que é Deus, Kardec vai inquirir sobre as provas da Sua existência:
“Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?
Num axioma que aplicais às vossas ciências: Não há efeito
sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão
responderá.”
Comentário de Kardec nesta questão:
“Para crer-se em Deus, basta
se lance o olhar sobre as obras da criação. O universo existe, logo tem uma
causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e
avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.”
E mais:
O Livro dos Espíritos > Parte primeira — Das
causas primárias > Capítulo I - De Deus > Provas da existência de Deus.
> 9
“Em que é que, na
causa primária, se revela uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências?
Tendes um provérbio
que diz: Pela obra se reconhece o autor. Pois bem: vede a obra e
procurai o autor. O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada
admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito
forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!”
Kardec acrescenta, comentando:
“Do poder de uma
inteligência se julga pelas suas obras. Não podendo nenhum ser humano criar
o que a natureza produz, a causa primária é, conseguintemente, uma inteligência
superior à humanidade.”
Além dessa prova racional, Kardec vai investigar sobre o
sentimento que nos faz ter a certeza da existência de Deus:
O Livro dos Espíritos > Parte primeira — Das
causas primárias > Capítulo I - De Deus > Provas da existência de Deus.
> 5
“Que consequência se
pode tirar do sentimento intuitivo que todos os homens trazem em si da
existência de Deus?
A de que Deus existe;
pois, donde lhes viria esse sentimento, se não tivesse uma base? É ainda uma
consequência do princípio de que não há efeito sem causa.”
Mesmo com a resposta da questão de nº5 acima, Kardec
continua a inquirir dos Espíritos:
O Livro dos Espíritos > Parte primeira — Das
causas primárias > Capítulo I - De Deus > Provas da existência de Deus.
> 6
“O sentimento íntimo
que temos da existência de Deus não poderia ser fruto da educação, resultado de
ideias adquiridas?
Se assim fosse, por
que existiria nos vossos selvagens esse sentimento?”
Comentário de Kardec nesta questão:
“Se o sentimento da existência
de um ser supremo fosse tão somente produto de um ensino, não seria universal e
não existiria senão nos que houvessem podido receber esse ensino, conforme se
dá com as noções científicas.”
Um dos princípios da Doutrina Espírita, que é uma lei
divina, é a Imortalidade da Alma. Somos Espíritos imortais, que já
vivemos muitas vidas, e que trazemos, por intuição, o sentimento da certeza da
divindade, tantas vezes percebida por nós em nossos períodos de erraticidade e
de emancipação da alma, e que o corpo material nos faz manter no esquecimento
providencial enquanto encarnados.Na questão 10, do mesmo livro, temos uma resposta que,
para ser compreendida, requer, além da nossa fé e inteligência, a nossa
humildade:
O Livro dos Espíritos > Parte primeira — Das
causas primárias > Capítulo I - De Deus > Atributos da divindade. > 10
“Pode o homem
compreender a natureza íntima de Deus?
Não; falta-lhe para
isso um sentido.”
E na questão seguinte vem o consolo para nós, suas
criaturas imortais:
O Livro dos Espíritos > Parte primeira — Das
causas primárias > Capítulo I - De Deus > Atributos da divindade. > 11
“Será dado um dia ao
homem compreender o mistério da Divindade?
Quando não mais tiver
o espírito obscurecido pela matéria e, pela sua perfeição, se houver aproximado
de Deus,
ele o verá e compreenderá.”
Lembrando que o Espírito perfeito é classificado por
Kardec como de primeira ordem da escala espírita. Não sofre influência da matéria e possui
superioridade intelectual e moral absoluta em relação aos Espíritos das outras
ordens. Que não é suscetível de passar mais por provas, e que, assim como os
Espíritos da 2ª ordem, não têm nenhum mau sentimento, como egoísmo, orgulho,
inveja, ciúme, raiva, vaidade, etc., sentimentos que são comuns à quase
totalidade de nós, Espíritos de 3ª ordem. Espíritos puros são virtuosos em
plenitude. No 2º capítulo do livro A
Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo, encontramos
Kardec discorrendo sobre Deus.
A Gênese, os milagres e as predições segundo o
Espiritismo > A Gênese > Capítulo II - Deus > Da natureza divina >
8
“Não é dado ao homem
sondar a natureza íntima de Deus. Para compreendê-lo, ainda nos falta o sentido
próprio, que só se adquire por meio da completa depuração do Espírito. Mas, se
não pode penetrar na essência de Deus, o homem, desde que aceite como premissa
a sua existência, pode, pelo raciocínio, chegar a conhecer-lhe os atributos
necessários, porquanto, vendo o que ele absolutamente não pode ser, sem deixar
de ser Deus, deduz daí o que ele deve ser.
Sem o conhecimento
dos atributos de Deus, impossível seria compreender-se a obra da criação.
Esse o ponto de partida de todas as crenças religiosas e é por não se terem
reportado a isso, como ao farol capaz de as orientar, que a maioria das
religiões errou em seus dogmas. As que não atribuíram a Deus a onipotência, imaginaram
muitos Deuses;
as que não lhe atribuíram soberana bondade fizeram dele um Deus
cioso, colérico, parcial e vingativo.”
E quais são os atributos de Deus?
A Gênese, os milagres e
as predições segundo o Espiritismo > A Gênese > Capítulo II - Deus
> Da natureza divina
“Deus é a
suprema e soberana inteligência. É limitada a inteligência do homem,
pois que não pode fazer, nem compreender tudo o que existe. A de Deus,
abrangendo o infinito, tem que ser infinita.
Deus é eterno,
isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, houvera
saído do nada. Ora, não sendo o nada coisa alguma, coisa nenhuma pode produzir.
Ou, então, teria sido criado por outro ser anterior e, nesse caso, este ser é
que seria Deus.
Deus é
imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma estabilidade teriam
as leis que regem o Universo.
Deus é
imaterial, isto é, a sua natureza difere de tudo o que chamamos
matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às
transformações da matéria.
Deus é
onipotente. Se não possuísse o poder supremo, sempre se poderia
conceber uma entidade mais poderosa e assim por diante, até chegar-se ao ser
cuja potencialidade nenhum outro ultrapassasse. Esse então é que seria Deus.
Deus é
soberanamente justo e bom. A providencial sabedoria das leis divinas se
revela nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, não permitindo essa
sabedoria que se duvide da sua justiça, nem da sua bondade.
Deus é
infinitamente perfeito. É impossível conceber-se Deus sem o infinito
das perfeições, sem o que não seria Deus, pois sempre se poderia conceber um
ser que possuísse o que lhe faltasse.
Deus é único.
A unicidade de Deus é consequência do fato de serem infinitas as suas
perfeições.”
Conhecemos os atributos de Deus e o sentimos em nosso
coração, o amamos e temos fé n’Ele.Allan Kardec, em sua obra Revista
Espírita, de maio de 1866, traz um texto inédito, utilizando-se de
conceitos doutrinários, rico em analogias, e nos permite, por enquanto, ter uma
ideia mais real da divindade, dentro da nossa capacidade evolutiva. Segue:
Revista Espírita - Jornal de estudos
psicológicos - 1866 > Maio > Deus está em toda parte
“Deus está em toda
parte.
Como é que Deus,
tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, pode imiscuir-se em detalhes
ínfimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos de cada
indivíduo? Tal é a pergunta feita muitas vezes.
Em seu estado atual
de inferioridade, só dificilmente os homens podem compreender Deus
infinito, porque eles próprios são circunscritos, limitados e por isto o
configuram circunscrito e limitado, como eles mesmos; representando-o como um
ser circunscrito, dele fazem uma imagem à sua imagem. (...) É para a maioria um
soberano poderoso, sobre um trono inacessível, perdido na imensidade dos céus,
e porque suas faculdades e suas percepções são restritas, eles não compreendem
que Deus
possa ou se digne intervir diretamente nas menores coisas.
Na impotência em que
se acha o homem de compreender a essência da divindade, não pode fazer senão
uma ideia aproximada, auxiliado por comparações necessariamente muito
imperfeitas, mas que, ao menos, lhe podem mostrar a possibilidade do que, à
primeira vista, lhe parece impossível.
Suponhamos um fluido
bastante sutil para penetrar todos os corpos. (...) Não sendo inteligente, esse
fluido age mecanicamente apenas pelas forças materiais. Mas se supusermos esse
fluido dotado de inteligência, de facilidades perceptivas e sensitivas, ele
agirá, não mais cegamente, mas com discernimento, com vontade e liberdade;
verá, ouvirá e sentirá.
As propriedades do
fluido perispiritual nos podem dar uma ideia. Ele não é inteligente por si
mesmo, porque é matéria, mas é o veículo do pensamento, das sensações e das
percepções do Espírito; é em consequência da sutileza desse fluido que os
Espíritos penetram por toda parte, perscrutam os nossos pensamentos, que veem e
agem à distância; é a esse fluido, chegado a um certo grau de depuração, que os
Espíritos superiores devem o dom da ubiquidade;
basta um raio de seu pensamento dirigido para diversos pontos, para que eles
possam aí manifestar sua presença simultânea. A extensão dessa faculdade
está subordinada ao grau de elevação e de depuração do Espírito.
Mas os Espíritos,
por mais elevados que sejam, são criaturas limitadas em suas faculdades. Seu
poder e a extensão de suas percepções não poderiam, sob este ponto de vista, se
aproximar de Deus. Contudo podem servir de ponto de comparação. O que
o Espírito não pode realizar senão num limite restrito, Deus, que é infinito, o realiza
em proporções infinitas. Há ainda, como diferença, que a ação do Espírito é
momentânea e subordinada às circunstâncias, ao passo que a de Deus
é permanente; o pensamento do Espírito só abarca um tempo e um espaço
circunscritos, enquanto o de Deus abarca o Universo e a eternidade.
Numa palavra, entre os Espíritos e Deus há a distância do finito ao
infinito.
(...) Seja ou não
seja assim o pensamento de Deus, isto é, que ele aja diretamente ou
por intermédio de um fluido, para a facilidade de nossa compreensão
representamos esse pensamento sob a forma concreta de um fluido inteligente,
enchendo o Universo infinito, penetrando todas as partes da criação. A Natureza
inteira está mergulhada no fluido divino; tudo está submetido à sua ação
inteligente, à sua previdência, à sua solicitude; nenhum ser, por mais ínfimo
que seja, deixa de estar, de certo modo, dele saturado.
Assim, estamos
constantemente em presença da divindade; não há uma só de nossas ações que possamos
subtrair ao seu olhar; nosso pensamento está em contato com o seu pensamento, e
é com razão que se diz que Deus lê os nossos mais profundos refolhos
do coração; estamos nele como ele em nós, segundo a palavra do Cristo. Para
estender sua solicitude às menores criaturas, ele não tem necessidade de
mergulhar seu olhar do alto da imensidade, nem de deixar a morada de sua
glória, pois essa morada está em toda parte. Para serem ouvidas por ele,
nossas preces não necessitam transpor o espaço, nem serem ditas com voz
retumbante, porque, incessantemente penetrados por ele, nossos pensamentos nele
repercutem.
A imagem de um
fluido inteligente universal evidentemente não passa de uma comparação, mas
própria a dar uma ideia mais justa de Deus que os quadros que o representam sob
a figura de um velho de longas barbas, envolto num manto. (...)A ideia de um
fluido universal inteligente, penetrando tudo, ─ como seria o fluido luminoso,
o fluido calórico, o fluido elétrico ou quaisquer outros, se eles fossem inteligentes,
─ tem o objetivo de fazer compreender a possibilidade para Deus
de estar em toda parte, de ocupar-se de tudo, de velar pelo broto da erva como
pelos mundos.
(...) Se simples
Espíritos têm o dom da ubiquidade, essa faculdade, para Deus, deve ser sem limites.
Enchendo Deus
o Universo, poder-se-ia admitir, a título de hipótese, que esse foco não
necessita transportar-se, e que ele se forme em todos os pontos onde sua
soberana vontade julgue a propósito produzir-se, de onde se poderia dizer que
ele está em toda parte e em parte alguma.
Diante destes
problemas insondáveis, nossa razão deve humilhar-se. Deus existe: não poderíamos
duvidar; ele é infinitamente justo e bom: é sua essência; sua solicitude se
estende a tudo: nós o compreendemos agora; incessantemente em contato com ele,
podemos orar a ele com a certeza de ser ouvidos; ele não pode querer senão o
nosso bem, por isso devemos ter confiança nele. Eis o essencial."
Quanto ao mais, ocupemo-nos em crescer em moralidade, adquirindo virtudes, combatendo e eliminando nossos vícios morais, como egoísmo, inveja, ciume, mágoa, raiva, etc., para que sejamos dignos de compreendê-Lo cada vez mais. _____________________________________
Obras utilizadas: O Livro dos Espíritos
A Gênese, os milagres e as predições segundo o
Espiritismo
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos
O Céu e o Inferno
Instruções práticas sobre as manifestações espíritas
Sugestões de Materiais
Complementares
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Todos os grifos são nossos Axioma = “Evidência cuja
comprovação é dispensável por ser óbvia; princípio evidente por si mesmo.”
- https://www.dicio.com.br/axioma/ O Livro dos Espíritos. Q. 92.
“Têm os Espíritos o dom da ubiquidade? Por outras palavras: um Espírito pode dividir-se,
ou existir em muitos pontos ao mesmo tempo?