Objetivos desse texto:
Conteúdo:
Muitos se questionam como nós, ainda Espíritos limitados de saber e virtudes, podemos ajudar os Espíritos sofredores, quer seja através do diálogo ou da prece, visto que existem tantos Espíritos bons, superiores, até mesmo o seu Anjo guardião, que podem aconselhar e orientá-los com maior poder e eficiência. Vejamos o porquê:
1. POR QUE OS ESPÍRITOS SOFREDORES PRECISAM DA AJUDA DE ENCARNADOS, VISTO QUE EXISTEM OS ESPÍRITOS ELEVADOS QUE PODEM MELHOR AJUDÁ-LOS?
“5ª. a — Como pode um homem ter, a esse respeito, mais influência do que a têm os próprios Espíritos?
O homem, indubitavelmente, não dispõe de mais poder do que os Espíritos superiores, porém, sua linguagem se identifica melhor com a natureza daqueles outros e, ao verem o ascendente que o homem pode exercer sobre os Espíritos inferiores, melhor compreendem a solidariedade que existe entre o céu e a terra.”
Com o mesmo objetivo, Kardec disponibilizou uma mensagem do
Espírito de Santo Agostinho respondendo ao porquê de os Espíritos sofredores
pedirem sempre aos encarnados que orassem por eles. Vejamos a pergunta e a
resposta na Revista Espírita, em agosto
de 1862:
P: “Continuamente os Espíritos pedem preces aos mortais. Será que os bons Espíritos não oram pelos sofredores? E, nesse caso, por que as dos homens são mais eficazes?”
R: “Perguntais por que os Espíritos sofredores preferem pedir preces a vós do que a nós. As preces dos mortais são mais eficazes que as dos bons Espíritos? Quem vos disse que nossas preces não tinham a virtude de espargir consolação e dar força aos Espíritos fracos que não podem ir a Deus senão com esforço e muitas vezes sem coragem? Se imploram as vossas preces, é porque elas têm o mérito das emanações terrenas, que sobem voluntariamente a Deus. Essas eles sempre apreciam, por virem da vossa caridade e do vosso amor.
Para vós, orar é abnegação; para nós, um dever. O encarnado que ora pelo próximo cumpre a nobre tarefa de puros Espíritos; sem possuir a coragem e a força destes, realiza as suas maravilhas. É peculiar à nossa vida consolar o Espírito que pena e sofre, mas uma de vossas preces é o colar que tirais do pescoço para dar ao indigente; é o pão que retirais de vossa mesa para dá-lo ao que tem fome, por isso vossas preces são agradáveis ao que as escuta.
Meus filhos, eis por que os Espíritos sofredores, que vagam em torno de vós, imploram as vossas preces. Nós devemos orar. Vós podeis orar.
Prece do coração, tu és a alma das almas, se assim me posso exprimir, quintessência sublime que sobe, sempre casta, bela e radiosa, para a alma mais vasta de Deus!
SANTO AGOSTINHO”
2. QUALIDADES NECESSÁRIAS PARA QUEM DIALOGA COM OS ESPÍRITOS SOFREDORES:
Além de orientar quanto ao estudo da Doutrina Espírita,
quanto ao dever de ajudar e o que podemos aprender com o diálogo com os
Espíritos inferiores, Kardec ressalta qualidades que devem ter todo aquele que
se predispõe a essas conversações:
“Entre os Espíritos inferiores, muitos há que são infelizes. Quaisquer que sejam as faltas que estejam expiando, seus sofrimentos constituem títulos tanto maiores à nossa comiseração[1], quanto é certo que ninguém pode lisonjear-se de lhe não caberem estas palavras do Cristo: “Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado.” A benignidade que lhe testemunhemos representa para eles um alívio. Em falta de simpatia, precisam encontrar em nós a indulgência que desejaríamos tivessem conosco.”
Deve-se sempre lembrar que todos nós possuímos um anjo guardião, que nos assiste em toda a nossa vida e mesmo quando estamos desencarnados. Portanto, aquele que conversa com os Espíritos deve pedir sempre, em oração, para que Ele possa inspirar e orientar para a devida condução do diálogo.
3. O QUE OS ESPÍRITOS SOFREDORES SENTEM E RELATAM:
As comunicações com os Espíritos inferiores permitem
auxiliar os que sofrem a se libertar da influência da matéria e a se melhorar. A
seguinte comunicação de um Espírito resume as consequências da conversação
praticada com um objetivo caridoso:
“Cada Espírito sofredor e queixoso vos contará a causa de sua queda, os arrastamentos a que sucumbiu; ele vos falará de suas esperanças, seus combates, seus terrores; ele vos contará seus remorsos, suas dores, seus desesperos. Escutando-o, ficareis tomados de compaixão por ele e de temor por vós mesmos; seguindo-o em suas queixas, vereis Deus não o perdendo de vista, aguardando o pecador arrependido, estendendo-lhe os braços tão logo ele tente avançar. Vereis os progressos do culpado, para os quais tereis a felicidade e a glória de ter contribuído.”
Como já mencionamos anteriormente, um dos assuntos de grande
importância ao conhecimento daquele que conversa com os Espíritos é o estado de
perturbação espiritual pelo qual todos passam após a morte do corpo físico. Este estado é
uma transição entre a morte e o “despertar” do Espírito no mundo espiritual.
Esse “despertar” diz respeito a se libertar da confusão das ideias que
impossibilita ao Espírito ter plena consciência de si, acessar suas memórias de
vidas passadas e a utilizar totalmente suas percepções de ver, se sentir, de
ouvir.
Vejamos uma descrição desse estado:
“A tenacidade das ideias terrenas é tanto maior quanto mais recente a morte. No momento da morte a alma se acha sempre num estado de perturbação, durante o qual apenas se reconhece; é um despertar incompleto. Suas constantes respostas são: Não sei onde estou; tudo é confuso para mim. Por vezes se lastimam por terem sido desorganizadas tão cedo; outras dizem cruamente que as deixem tranquilas e, conforme o caráter, exprimem esse pensamento em termos mais ou menos corteses. Muitos não creem que estejam mortos - principalmente os suplicados, os suicidas e, em geral, os que sofrem morte violenta: veem seu corpo; sabem que este lhes pertence e não compreendem que do mesmo se achem separados. Isto lhes causa espanto, é-lhes necessário algum tempo para se darem conta de sua nova situação.Este estado de confusão que pode ser comparado ao estado transitório do sono à vigília, persiste mais ou menos tempo. Temos visto alguns que se acham completamente desprendidos ao cabo de três ou quatro dias e outros que ainda não estavam depois de vários meses. Acompanha-se com interesse sua marcha progressiva; assiste-se, de certo modo, o despertar da alma; as perguntas que lhes são dirigidas, desde que feitas com certa medida, prudência, circunspecção e benevolência, os ajudam até a se desvencilharem. Se sofrem e nos apiedamos de sua dor, sentem-se aliviados.
Kardec detalha ainda mais esses estados da alma quando
descreve sobre as penas futuras sofridas pelos Espíritos:
23º Um fenômeno, muito frequente nos Espíritos de alguma inferioridade moral, consiste em acreditar que ainda estão vivos, e essa ilusão pode prolongar-se durante anos, ao longo dos quais experimentam todas as necessidades, todos os tormentos e todas as perplexidades da vida.
24º Para o criminoso, a visão incessante de suas vítimas e das circunstâncias do crime é um cruel suplício.
25º Certos Espíritos estão mergulhados em espessas trevas; outros estão num isolamento absoluto no meio do espaço, atormentados pela ignorância de sua posição e de seu destino. Os mais culpados sofrem torturas tanto mais pungentes quanto não lhes veem o fim. Muitos são privados da visão dos seres que lhes são caros.
26º É um suplício para o orgulhoso ver acima de si, na glória, rodeados e festejados, aqueles que ele desprezara na terra, ao passo que ele é relegado às últimas fileiras; para o hipócrita, ver-se penetrado pela luz que põe a nu seus mais secretos pensamentos, que todos podem ler: nenhum meio têm de se esconder e dissimular-se; para o sensual, ter todas as tentações, todos os desejos, sem poder satisfazê-los; para o avaro, ver seu ouro dilapidado e não poder retê-lo; para o egoísta, ser abandonado por todos e sofrer tudo o que outros sofreram por sua causa: terá sede, e ninguém lhe dará de beber; terá fome, e ninguém lhe dará de comer; nenhuma mão amiga vem apertar a sua, nenhuma voz compassiva o vem consolar; não pensou senão em si próprio durante a vida, ninguém pensa nele nem o lastima depois da morte.”
Existem infinitos exemplos de sofrimentos que os Espíritos relatam, e para com todos deve-se ter uma condução de conversa respeitosa, indulgente, benevolente, tentando fazer com que o Espírito reflita no porquê do estado que o faz sofrer, incitá-lo ao reconhecimento do amor de Deus para com todos nós, em ter esperança e fé, em orar com ele, em ouvi-lo com atenção, etc. Tudo isso pode ser feito, conforme seja apropriado a cada situação. Cabe ao dialogador conduzir a conversa com sensibilidade, como gostaria que fizessem consigo mesmo.
4. EXEMPLOS DE RELATOS DOS ESPÍRITOS SOFREDORES:
É normal a todos que se disponibilizam a dialogar com os
Espíritos buscar referências de conversações para que possam guiá-los na
tarefa. Por esta razão, Allan Kardec após orientar sobre a necessidade de
estudo da Doutrina Espírita e de identificar as qualidades necessárias ao
dialogador, oferece uma vasta quantidade de diálogos com os Espíritos que são
excelentes orientações de como os encarnados podem e devem conduzir a
conversação.
Assim Kardec disponibiliza quase setenta diálogos na segunda parte do livro O Céu e o Inferno, e assim ele classifica por condição dos Espíritos.
- Espíritos felizes
- Espíritos em condição média
- Espíritos sofredores
- Suicidas
- Criminosos arrependidos
- Espíritos endurecidos
- Expiações terrestres
Recomendamos a leitura de todos, em especial do item 2 ao 7,
onde podemos observar diversos relatos de Espíritos, como os que não conseguem
se comunicar, os que não se reconhecem mortos, aqueles que tem ilusões de dor e
desejos físicos, ou em confusão mental, os dependentes de situações viciosas,
os amedrontados e ainda com sofrimentos morais diversos.
Os Espíritos endurecidos, item 6, são aqueles vingativos,
obsessores, mistificadores, irônicos, descrentes, desafiantes, perturbadores,
raivosos, etc., que também devem receber palavras de esclarecimentos, com
paciência e benevolência, pois também sofrem, mesmo que neguem ou ainda se
iludam.
5. RESULTADO DE UM BOM DIÁLOGO.
O estudioso da Doutrina espírita poderá ler depoimentos de
Espíritos após terem sido ajudados pela conversação com os encarnados na Obra o
Céu e o Inferno e nas Revistas Espíritas. Contudo, para ilustrar, colocamos
abaixo dois desses testemunhos, que nos sensibiliza por suas palavras:
“Obrigado, alma caridosa! Eu me achava só, com os remorsos de minha vida passada e tivestes piedade de mim. Estava abandonado e pensastes em mim. Estava no abismo e estendestes-me a mão. Vossas preces foram para mim como um bálsamo consolador. Compreendi a enormidade dos meus crimes e peço a Deus que me conceda a graça de repará-los numa nova existência, na qual possa fazer tanto bem quanto mal já fiz. Obrigado, mais uma vez! Obrigado!”
E mais este:
“A compaixão que tivestes pelos meus sofrimentos tão horríveis me aliviou. Compreendo a esperança; entrevejo o perdão, depois do castigo da falta cometida. Continuo a sofrer, e se Deus permite que, durante alguns momentos, eu entreveja o fim da minha desgraça, não é senão às preces das almas caridosas, tocadas pela minha situação, que devo esse abrandamento... Fico mais calmo com a vossa compaixão e pela confidência da minha miséria, que acalma meu mal e descansa meu Espírito... Vossas preces fazem-me bem; não me as recuseis. Não quero voltar a cair naquele horrível sonho que se torna realidade quando o vejo...Pegai no lápis com mais frequência; faz-me tanto bem comunicar-me por vós!”
Oremos por todos aqueles que sofrem pelo caminho desviado do
bem, e, aos que têm a oportunidade de dialogar com eles, que sigam os
conselhos dados por Allan Kardec, praticando a conversação, com o verdadeiro
sentimento de caridade e fraternidade.
_______________________________________________________
Obras utilizadas:
1.
O
Livro dos Médiuns
2.
Revista
Espírita - Jornal de estudos
psicológicos
3.
O
Céu e o Inferno
4.
Instruções
práticas sobre as manifestações espíritas.
[1] Comiseração = clemência,
compaixão, misericórdia.