Mostrando postagens com marcador Perispírito. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Perispírito. Mostrar todas as postagens

DIÁLOGO COM ESPÍRITOS SOFREDORES - 1ª parte

Objetivos específicos desse texto:

1. Perceber a importância do estudo da Doutrina Espírita para compreender os sofrimentos que acometem os Espíritos;
2. Saber como os Espíritos são atraídos para as reuniões mediúnicas;
3. Compreender os meios que os encarnados podem ajudar os Espíritos.  

Conteúdo:

Durante quatorze anos, com o auxílio de muitos médiuns, Allan Kardec conversou com Espíritos, investigando e apreendendo as diversas situações em que vivem, consequência direta do estado de progresso espiritual de cada um.

Dentre as milhares de comunicações que Kardec presenciou, e também recebeu através de correspondências, podemos encontrar centenas delas em suas obras, especialmente, nas Revistas Espíritas e no livro O Céu e o Inferno.

De comunicações como as do próprio Jesus, como o "Espírito de Verdade", e de Espíritos superiores e dos inferiores, Kardec nos oferece um estudo minucioso sobre o estado evolutivo dos Espíritos, seus conhecimentos, estado moral, felicidade ou infelicidade, e nos permite perceber a sábia condução dos diálogos, com intenção de melhor aproveitar o saber de uns, as percepções e conselhos de outros, bem como orientar àqueles que necessitavam de esclarecimentos e ajuda, sempre com sua sensatez, seriedade e sabedoria, próprias de sua elevação intelectual e moral.

1. A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

Investigando a vida após a morte, mediante diversas respostas dadas pelos Espíritos, Allan Kardec nos relata:

O que é o Espiritismo? > Capítulo III — Solução de alguns problemas pela Doutrina Espírita > O homem depois da morte > 145
Estas respostas e todas as relativas à situação da alma depois da morte ou durante a vida não são o resultado de uma teoria ou de um sistema, mas de estudos diretos feitos sobre milhares de indivíduos, observados em todas as fases e períodos da sua existência espiritual, desde o mais baixo ao mais alto grau da escala, segundo seus hábitos durante a vida terrena, gênero de morte etc.[1] 

 De posse de todo esse estudo e saber, Allan Kardec aconselha:

Instruções práticas sobre as manifestações espíritas > Capítulo X - Conselhos aos novatos
“CONSELHOS AOS NOVATOS

O conhecimento da ciência espírita repousa sobre uma convicção moral e uma convicção material. A primeira é adquirida pelo raciocínio; a segunda, pela observação dos fatos. Para o novato seria lógico primeiro ver, depois raciocinar. Infelizmente nem sempre pode ser assim.” b

Kardec continua esse texto esclarecendo que não se pode esperar que as comunicações dos Espíritos sigam uma ordem programada, como se obtém em experimentações nos laboratórios de química e física, visto estar lidando com individualidades que possuem vontade própria, e por isso, muitas vezes, os principiantes não as entendem ou não conseguem fazer conclusões. Depois ele conclui:

“É possível contornar esse inconveniente seguindo marcha contrária, isto é, começando pela teoriaÉ o que aconselhamos a todos quantos queiram seriamente esclarecer-se. Pelo estudo dos princípios da ciência, perfeitamente compreensíveis sem experimentação prática, adquirimos uma primeira convicção moral, que necessita apenas de corroboração pelos fatos.”

O cuidado de Kardec para que os estudos sejam realizados antes das experimentações foi motivo para vários alertas em suas obras, como a seguinte:

“Dissemos que o Espiritismo é toda uma ciência, toda uma filosofia. Quem, pois, seriamente queira conhecê-lo deve, como primeira condição, dispor-se a um estudo sério e persuadir-se de que ele não pode, como nenhuma outra ciência, ser aprendido a brincar.” 

E ainda:

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte — Das manifestações espíritas > Capítulo XVII – Da formação dos médiuns > Desenvolvimento da mediunidade > 211
“Por isso é que indispensável se faz o estudo prévio da teoria, para todo aquele que queira evitar os inconvenientes peculiares à experiência.” 

Os médiuns e todos os que dialogam com os Espíritos, devem estudar a Doutrina Espírita, especialmente os assuntos que têm relação com o estado dos Espíritos após a morte: suas percepções, sensações, sofrimentos, progresso, estado de perturbação espiritual, ocupações, etc.

Um dos conhecimentos mais importantes é sobre o grau evolutivo dos Espíritos. Por isso Kardec alerta:

“Quem estiver bem compenetrado, segundo a escala espírita (O Livro dos Espíritos, nº 100), da variedade infinita que apresentam os Espíritos, sob o duplo aspecto da inteligência e da moralidade, facilmente se convencerá de que há de haver diferença entre as suas comunicaçõesque estas hão de refletir a elevação, ou a baixeza de suas ideias, o saber e a ignorância deles, seus vícios e suas virtudes; que, numa palavra, elas hão de se assemelhar às dos homens, desde os selvagens até o mais ilustrado europeu [2].” 

Allan Kardec orienta o estudo da Doutrina Espírita, e nos aconselha a ordem de leitura dos livros, conforme se encontra em O Livro dos Médiuns, capítulo III - Do Método:

35. Aos que quiserem adquirir essas noções preliminares, pela leitura das nossas obras, aconselhamos que as leiam nesta ordem:
1º O que é o Espiritismo? [...]
2º O Livro dos Espíritos.  [...]
3º O Livro dos Médiuns. [...]
4º A Revista Espírita. [...]

Kardec faz essa listagem em O Livro dos Médiuns, pois, quando este foi publicado em 1861, não havia escrito as demais obras. Fica subentendido que a sequência de leitura a ser seguida é a da ordem cronológica de publicação dos livros.

De forma mais atualizada encontramos na 6ª edição do livro O que é o Espiritismo? publicada em 1865, onde Kardec amplia a lista, que se encontra ao final do Terceiro Diálogo - O Padre:

"Se desta leitura nascer o desejo de continuar, deve-se ler O Livro dos Espíritos, onde os princípios da doutrina estão completamente desenvolvidos; depois, O Livro dos Médiuns, para a parte experimental, destinado a servir de guia aos que desejarem operar por si mesmos, como aos que quiserem bem compreender os fenômenos. Vêm depois as diversas obras onde são desenvolvidas as aplicações e as consequências da doutrina, como: O Evangelho segundo o EspiritismoO Céu e o Inferno segundo o Espiritismo, etc."
"A Revista espírita é, de certa forma, um curso rápido de aplicações, pelos numerosos exemplos e desenvolvimentos que encerra, tanto sobre a parte teórica, quanto sobre a parte experimental."

Em O Livro dos Médiuns Kardec resume o que cada obra aborda, além de dar uma orientação importante a respeito da leitura da Revista Espírita, que diz assim:

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Primeira parte — Noções preliminares > Capítulo III — Do método > 35
“4º A Revista Espírita. Variada coletânea de fatos, de explicações teóricas e de trechos isolados, que completam o que se encontra nas duas obras precedentes, formando-lhes, de certo modo, a aplicação. Sua leitura pode fazer-se simultaneamente com a daquelas obras, porém, mais proveitosa será, e, sobretudo, mais inteligível, se for feita depois de O Livro dos Espíritos.”

Esclarecemos que a Revista Espírita era publicada em fascículos mensais, escrita por Allan Kardec, que durou de janeiro de 1858 a abril de 1869, portanto doze anos. Esses fascículos mensais são encontrados atualmente agrupados em doze livros, separados por ano de publicação.

Outra observação importante é que a obra que costumamos denominar como O Livro dos Médiuns, intitula-se: O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores, ou seja, contém a Ciência Espírita com orientações para os médiuns e para todos aqueles que conversam que os Espíritos. Essa orientação estende-se a todo espírita, pois, como o próprio Kardec disse, é “o complemento de O Livro dos Espíritos” (cap. III – Do Método – O Livro dos Médiuns) e deve ser estudado por todos.

2. COMO OS ESPÍRITOS SE APRESENTAM NAS REUNIÕES MEDIÚNICAS.

As comunicações dos Espíritos, que Kardec registrou nas obras fundamentais da Doutrina Espírita, foram obtidas espontaneamente, ou por evocações, ou ainda por Espíritos conduzidos por outros Espíritos.

É oportuno diferenciar essas três formas que os Espíritos se apresentam:

  1. Espontânea: quando os Espíritos se comunicam por livre vontade;
  2. Evocação: quando são solicitados a se apresentarem;
  3. Conduzidos: quando um Espírito conduz outro para se comunicar.

Citamos, para exemplificar, algumas comunicações de cada forma de manifestação acima:

Cenas da vida particular espírita;
Palestras familiares de além-túmulo – Humboldt;
Espíritos felizes – Sixdeniers e O Espírito de Castelnaudary.

3. DEVE-SE CONVERSAR COM OS ESPÍRITOS INFERIORES E SOFREDORES?

Além das comunicações dadas pelos Espíritos elevados, que revelaram os princípios da Doutrina Espírita e todas as consequências morais deles extraídas, Kardec muito conversou e orientou os Espíritos inferiores, principalmente os sofredores, tendo sido orientado a fazê-lo pelos próprios Espíritos superiores que lhe responderam à seguinte pergunta em O Livro dos Espíritos:

O Livro dos Espíritos > Parte quarta — Das esperanças e consolações > Capítulo II — Das penas e gozos futuros > Paraíso, inferno e purgatório. Paraíso perdido. Pecado original. > 1015 [1014]
1015 [1014]. Que se deve entender pela expressão uma alma a penar?
Uma alma errante e sofredora, incerta de seu futuro, e à qual podeis proporcionar o alívio que muitas vezes solicita, vindo comunicar-se convosco.” 

Dessa forma, Kardec recebeu espontaneamente ou evocou, direta ou indiretamente, a muitos Espíritos sofredores nas reuniões mediúnicas da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas[3].

Dizemos indiretamente, porque, ciente da presença de Espíritos inferiores que observavam as reuniões de estudo, Kardec os convidava a se apresentarem, como é descrito no Boletim de registro de uma reunião geral da Sociedade, na Revista Espírita, em dezembro de 1860:

Revista Espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860 > Dezembro > Boletim
“4.º ─ É feito um apelo geral, sem designação especial, aos Espíritos sofredores que possam estar presentes, convidando-os a se identificarem.”

Dessa forma, possibilitava travar conversações com eles, esclarecendo e ajudando-os no que fosse possível.

4.COMO AJUDAR OS ESPÍRITOS SOFREDORES?

Allan Kardec enfatiza sobre como o conhecimento da Doutrina Espírita nos possibilita ajudar os Espíritos sofredores, através do diálogo, inclusive durante o fenômeno da passagem desta vida para a vida espiritual.

O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo > Segunda parte — Exemplos > Capítulo I - A passagem > 15
“O Espiritismo (...) não tem a pretensão de ser o único a assegurar a salvação da alma, mas ele a facilita pelos conhecimentos que proporciona, os sentimentos que inspira e as disposições nas quais coloca o Espírito, ao qual faz compreender a necessidade de se aperfeiçoar. Ele dá a cada um, além disso, os meios de facilitar o desprendimento dos outros Espíritos no momento em que eles deixam seu envoltório terrestre, e de abreviar a duração da perturbação pela prece e pela evocação. Pela prece sincera, que é uma magnetização espiritual, provoca-se uma desagregação mais rápida do fluido perispiritual; por uma evocação conduzida com sabedoria e prudência, e por palavras de benevolência e de encorajamento, tira-se o Espírito do entorpecimento em que se encontra, e ele é ajudado a se reconhecer mais cedo; se ele é sofredor, é excitado ao arrependimento, único que pode abreviar os sofrimentos.” 

Vejamos como se pode ajudar os Espíritos sofredores pelo diálogo e pela prece:

 4.1.  PELO DIÁLOGO.

Ao estudar sobre obsessão, em O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores, Kardec pergunta aos Espíritos superiores se nós devemos tentar moralizar um Espírito inferior, através da conversação:

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte — Das manifestações espíritas > Capítulo XXIII – Da obsessão > Meios de a combater > 254
“Sim, é o que não se deve descurar de fazer, porquanto, muitas vezes, isso constitui uma tarefa que vos é dada e que deveis desempenhar caridosa e religiosamente. Por meio de sábios conselhos, é possível induzi-los ao arrependimento e apressar-lhes o progresso.” 

E na obra Instruções práticas sobre as manifestações espíritas Kardec recomenda o diálogo com os Espíritos sofredores a fim de ajudá-los a encontrar a esperança que os levará ao caminho da reparação:

Instruções práticas sobre as manifestações espíritas > Capítulo III - Comunicações espíritas
“Para aquele cuja consciência se acha carregada de erros, para o homem material que pôs todas as suas alegrias na satisfação de seu corpo, para aquele que mal aplicou os favores concedidos pela Providência, é terrível. Sim, esses Espíritos sofrem assim que deixam a vida; sofrem muito e esse sofrimento pode durar tanto quanto a sua vida errante. Tal sofrimento poderá ser apenas moral, mas nem por isso será menos pungente, porque nem sempre lhes é dado ver o seu termo. Sofrem até que um raio de esperança venha brilhar aos seus olhos, e essa esperança podemos fazê-la nascer em conversa com eles. Boas palavras, testemunhos de simpatia são para eles um alívio, para o que podem concorrer os bons Espíritos que chamamos em nosso auxílio, a fim de ajudar as nossas intenções.” 

As intenções a que Kardec se refere é o aprendizado com as experiências alheias, cujos relatos podemos perceber sobre o estado futuro da alma, em decorrência do que se fez enquanto encarnado. Assim ele alerta:

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte — Das manifestações espíritas > Capítulo XXIX – Das reuniões e das Sociedades Espíritas > Rivalidades entre as Sociedades > 350
“Que importa crer na existência dos Espíritos, se essa crença não faz que aquele que a tem se torne melhor, mais benigno e indulgente para com os seus semelhantes, mais humilde e paciente na adversidade? De que serve ao avarento ser espírita, se continua avarento; ao orgulhoso, se se conserva cheio de si; ao invejoso, se permanece dominado pela inveja?” 

4.2.  PELA PRECE

Através dos muitos exemplos de conversação com Espíritos sofredores que Kardec nos disponibiliza a leitura em suas obras, podemos verificar que, em geral, os Espíritos pedem que orem por eles.

No livro O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec nos explica o porquê desses pedidos:

O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo XXVII - Pedi e obtereis > Da prece pelos mortos e pelos Espíritos sofredores > 18
“18. Os Espíritos sofredores reclamam preces e estas lhes são proveitosas, porque, verificando que há quem neles pense, menos abandonados se sentem, menos infelizes.
Entretanto, a prece tem sobre eles ação mais direta: reanima-os, incute-lhes o desejo de se elevarem pelo arrependimento e pela reparação e, possivelmente, desvia-lhes do mal o pensamento. É nesse sentido que lhes pode não só aliviar, como abreviar os sofrimentos.” 

Também temos a mesma orientação em O Livro dos Espíritos:

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo II — 1. Lei de adoração > A prece. > 664
“664. Será útil que oremos pelos mortos e pelos Espíritos sofredores? E, neste caso, como lhes podem as nossas preces proporcionar alívio e abreviar os sofrimentos? Têm elas o poder de abrandar a justiça de Deus?

A prece não pode ter por efeito mudar os desígnios de Deus, mas a alma por quem se ora experimenta alívio, porque recebe assim um testemunho do interesse que inspira àquele que por ela pede, e também porque o desgraçado sente sempre um refrigério, quando encontra almas caridosas que se compadecem de suas dores. Por outro lado, mediante a prece, aquele que ora concita o desgraçado ao arrependimento e ao desejo de fazer o que é necessário para ser feliz. Neste sentido é que se lhe pode abreviar a pena, se, por sua parte, ele secunda a prece com a boa vontade. O desejo de melhorar-se, despertado pela prece, atrai para junto do Espírito sofredor Espíritos melhores, que o vão esclarecer, consolar e dar-lhe esperanças. Jesus orava pelas ovelhas desgarradas, mostrando-vos, desse modo, que culpados vos tornaríeis, se não fizésseis o mesmo pelos que mais necessitam das vossas preces.” 

Esse tema é complementado no Texto: DIÁLOGO COM ESPÍRITOS SOFREDORES - 2

_______________________________________________________

Obras utilizadas:

1.       O Livro dos Espíritos

2.       A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo

3.       Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos

4.    Instruções Práticas sobre as manifestações espíritas.

5.    O Evangelho segundo o Espiritismo

6.    O que é o Espiritismo

7.    O Livro dos Médiuns

8.    O Céu e o Inferno

  



[1] Todos os grifos são nossos.

[2] No século XIX a Europa era considerada como o continente de maior civilização e cultura mundiais.

[3] Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE) – Centro de estudos e observações que Allan Kardec fundou.

PERISPÍRITO - Propriedades - 2ª parte

Conteúdo:

Recomendamos a leitura do texto: As propriedades do perispírito – 1ª parte.
No presente texto, damos continuidade e finalizamos este estudo.

2.     Indestrutibilidade

3.     Mutabilidade

4.     Imponderabilidade

5.     Penetrabilidade

6.     Odor e Temperatura

7.     Expansibilidade 

8.     Sensibilidade geral

9.     Assimilação magnética

10.  In(visibilidade)/Tangibilidade

11.  Luminosidade 


7. EXPANSIBILIDADE

A expansibilidade do períspirito possibilita aos médiuns interagir com os Espíritos. A faculdade mediúnica está diretamente ligada à disposição orgânica do médium, conforme se vê nos textos seguintes:

“18. Sendo apenas Espíritos encarnados, os homens têm uma parcela da vida espiritual, visto que vivem dessa vida tanto quanto da vida corporal; primeiramente, durante o sono e, muitas vezes, no estado de vigília. O Espírito, encarnado, conserva, com as qualidades que lhe são próprias, o seu perispírito que, como se sabe, não fica circunscrito pelo corpo, mas irradia ao seu derredor e o envolve como que de uma atmosfera fluídica.[1]

Pela sua união íntima com o corpo, o perispírito desempenha preponderante papel no organismo. Pela sua expansão, põe o Espírito encarnado em relação mais direta com os Espíritos livres e também com os Espíritos encarnados.”

“Enfim, o que é peculiar aos médiuns, o que é da essência mesma da individualidade deles, é uma afinidade especial e, ao mesmo tempo, uma força de expansão particular, que lhes suprimem toda refratariedade e estabelecem, entre eles e nós, uma espécie de corrente, uma espécie de fusão, que nos facilita as comunicações. É, em suma, essa refratariedade da matéria que se opõe ao desenvolvimento da mediunidade, na maior parte dos que não são médiuns.”
 
“75. Estas explicações são claras, categóricas e isentas de ambiguidade. Delas ressalta, como ponto capital, que o fluido universal, onde se contém o princípio da vida, é o agente principal das manifestações, agente que recebe impulsão do Espírito, seja encarnado, seja errante. Condensado, esse fluido constitui o perispírito, ou invólucro semimaterial do Espírito. Encarnado este, o perispírito se acha unido à matéria do corpo; estando o Espírito na erraticidade, ele se encontra livre. Quando o Espírito está encarnado, a substância do perispírito se acha mais ou menos ligada, mais ou menos aderente, se assim nos podemos exprimir.”

Aproveitamos a oportunidade para discorrer sobre um aspecto muito importante e curioso, que é o rastro luminoso que o Espírito deixa quando se afasta do seu corpo vivo, possibilidade esta devido à expansibilidade do perispírito:

118. Antes de irmos adiante, devemos responder imediatamente a uma questão que não deixará de ser formulada: como pode o corpo viver, enquanto está ausente o Espírito? Poderíamos dizer que o corpo vive a vida orgânica, que independe do Espírito, e a prova é que as plantas vivem e não têm Espírito. Mas, precisamos acrescentar que, durante a vida, nunca o Espírito se acha completamente separado do corpo. Do mesmo modo que alguns médiuns videntes, os Espíritos reconhecem o Espírito de uma pessoa viva, por um rastro luminoso, que termina no corpo, fenômeno que absolutamente não se dá quando este está morto, porque, então, a separação é completa. Por meio dessa comunicação, entre o Espírito e o corpo, é que aquele recebe aviso, qualquer que seja a distância a que se ache do segundo, da necessidade que este possa experimentar da sua presença, caso em que volta ao seu invólucro com a rapidez do relâmpago.
 
“23. Embora, durante a vida, o Espírito se encontre preso ao corpo pelo perispírito, não se lhe acha tão escravizado, que não possa alongar a cadeia que o prende e transportar-se a um ponto distante, quer sobre a Terra, quer do espaço.”

A referência sobre “alongar a cadeia que o prende” diz respeito a “alongar o perispírito”.

(Saiba mais sobre esse “alongamento do perispírito”, que muitos designam como “cordão fluídico” ou “cordão de prata”, com a leitura da Revista Espírita sobre o Estudo sobre o Espírito das pessoas vivas -Março de 1860).


8. SENSIBILIDADE GERAL

É a propriedade que o perispírito tem de transmitir para o corpo físico (cérebro) do encarnado, todos os pensamentos do Espírito (desejos, sentimentos, percepções, emoções, etc.), bem como transmite ao Espírito todas as sensações do corpo físico e do mundo espiritual.

Assim encontramos em Kardec:

“O perispírito é o órgão sensitivo do Espírito, por meio do qual este percebe coisas espirituais que escapam aos sentidos corpóreos. Pelos órgãos do corpo, a visão, a audição e as diversas sensações são localizadas e limitadas à percepção das coisas materiais; pelo sentido espiritual, ou psíquico, elas se generalizam: o Espírito vê, ouve e sente, por todo o seu ser, tudo o que se encontra na esfera de irradiação do seu fluido perispirítico.”

“No corpo, essas sensações estão localizadas nos órgãos que lhe servem de canais. Destruído o corpo, as sensações tornam-se gerais. Eis por que o Espírito não diz que sofre mais da cabeça do que dos pés.
(...) Sabemos que há percepção, sensação, audição, visão; que essas faculdades são atributos do ser inteiro e não, como no homem, de uma parte do ser.” 

 

9. ASSIMILAÇÃO MAGNÉTICA

O perispírito, além de possibilitar ao Espírito receber as sensações transmitidas pelo mundo exterior, também é passível de assimilar fluidos de outro Espírito, bem como os que permeiam o meio ambiente. Vejamos inicialmente a ação dos Espíritos sobre os encarnados que lhes servem de intermediários para suas manifestações:

236. (...) o vosso perispírito e o nosso procedem do mesmo meio, são de natureza idêntica, são, numa palavra, semelhantes. Possuem uma propriedade de assimilação mais ou menos desenvolvida, de magnetização mais ou menos vigorosa, que nos permite a nós, Espíritos desencarnados e encarnados, pormo-nos muito pronta e facilmente em comunicação.

Vejamos agora a ação magnética exercida com finalidade de cura nos encarnados:

1º pelo próprio fluido do magnetizador;

2º pelo fluido dos Espíritos, atuando diretamente e sem intermediário sobre um encarnado;

3º pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o magnetizador, que serve de veículo para esse derramamento. É o magnetismo misto, semi-espiritual, ou, se o preferirem, humano-espiritual.

E, finalmente, vejamos a assimilação que perispírito está passível ante os fluidos ambientes:

18.(...) Sendo o perispírito dos encarnados de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, ele os assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido. Esses fluidos exercem sobre o perispírito uma ação tanto mais direta, quanto, por sua expansão e sua irradiação, o perispírito com eles se confunde.

É importante ressaltar que os fluidos, por si só, não possuem qualidades. As qualidades são adquiridas no meio em que se elaboram. Vejamos Kardec explicando sobre o assunto:

“Fora impossível fazer-se uma enumeração ou classificação dos bons e dos maus fluidos, ou especificar-lhes as respectivas qualidades, por ser tão grande quanto a dos pensamentos a diversidade deles. Os fluidos não possuem qualidades sui generis, mas as que adquirem no meio onde se elaboram; modificam-se pelos eflúvios desse meio, como o ar pelas exalações, a água pelos sais das camadas que atravessa. Conforme as circunstâncias, suas qualidades são, como as da água e do ar, temporárias ou permanentes, o que os torna muito especialmente apropriados à produção de tais ou tais efeitos.

Também carecem de denominações particulares. Como os odores, eles são designados pelas suas propriedades, seus efeitos e tipos originais. Sob o ponto de vista moral, trazem o cunho dos sentimentos de ódio, de inveja, de ciúme, de orgulho, de egoísmo, de violência, de hipocrisia, de bondade, de benevolência, de amor, de caridade, de doçura, etc. Sob o aspecto físico, são excitantes, calmantes, penetrantes, adstringentes, irritantes, dulcificantes, soporíficos, narcóticos, tóxicos, reparadores, expulsivos; tornam-se força de transmissão, de propulsão, etc. O quadro dos fluidos seria, pois, o de todas as paixões, das virtudes e dos vícios da Humanidade e das propriedades da matéria, correspondentes aos efeitos que eles produzem.”

 

10. IN(VISIBILIDADE) – TANGIBILIDADE – BICORPOREIDADE

Sabemos que o Perispírito é formado por fluidos etéreos, em outro estado da matéria, porém sabemos, por inúmeros relatos, que existem pessoas que dizem ver os Espíritos. Que lhes descrevem a fisionomia, a roupagem, a expressão, etc.

Muitas questões sobre esse assunto permeiam nossos pensamentos, e que Kardec teve o cuidado de investigar minuciosamente, esclarecendo assim as dúvidas a esse respeito. Vejamos como o Espírito pode ficar visível e tangível, e até mesmo como o Espírito de um encarnado pode aparecer para muitas pessoas:

“105. Por sua natureza e em seu estado normal, o perispírito é invisível e tem isto de comum com uma imensidade de fluidos que sabemos existir, sem que, entretanto, jamais os tenhamos visto. Mas, também, do mesmo modo que alguns desses fluidos, pode ele sofrer modificações que o tornem perceptível à vista, quer por meio de uma espécie de condensação, quer por meio de uma mudança na disposição de suas moléculas. Aparece-nos então sob uma forma vaporosa. 

A condensação (preciso é que não se tome esta palavra na sua significação literal; empregamo-la apenas por falta de outra e a título de comparação), a condensação, dizemos, pode ser tal que o perispírito adquira as propriedades de um corpo sólido e tangível, conservando, porém, a possibilidade de retomar instantaneamente seu estado etéreo e invisível. Podemos apreender esse efeito, atentando no vapor, que passa do de invisibilidade ao estado brumoso, depois ao estado líquido, em seguida ao sólido e vice-versa.”

 Vejamos agora, ainda no item 105, quais as condições para que acontecem as aparições: 

“Esses diferentes estados do perispírito resultam da vontade do Espírito e não de uma causa física exterior, como se dá com os nossos gases. Quando o Espírito nos aparece, é que pôs o seu perispírito no estado próprio a torná-lo visível. Mas, para isso, não basta a sua vontade, porquanto a modificação do perispírito se opera mediante sua combinação com o fluido peculiar ao médium. Ora, esta combinação nem sempre é possível, o que explica não ser generalizada a visibilidade dos Espíritos. Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se; não basta tão pouco que uma pessoa queira vê-lo; é necessário que os dois fluidos possam combinar-se, que entre eles haja uma espécie de afinidade e também, porventura, que a emissão do fluido da pessoa seja suficientemente abundante para operar a transformação do perispírito e, provavelmente, que se verifiquem ainda outras condições que desconhecemos. É necessário, enfim, que o Espírito tenha a permissão de se fazer visível a tal pessoa, o que nem sempre lhe é concedido, ou só o é em certas circunstâncias, por motivos que não podemos apreciar.”

Vamos completar essas informações acima com as seguintes perguntas que Kardec direcionou aos Espíritos:

“4ª Que fim objetivam os Espíritos que se manifestam visivelmente?
Isso depende; de acordo com as suas naturezas, o fim pode ser bom, ou mau.”

“20ª Os que veem os Espíritos veem-nos com os olhos?
Assim o julgam; mas, na realidade, é a alma quem vê e o que o prova é que os podem ver com os olhos fechados.”

“24ª Os Espíritos que aparecem são sempre inapreensível e imperceptíveis ao tato?
Em seu estado normal, são inapreensível, como num sonho. Entretanto, podem tornar-se capazes de produzir impressão ao tato, de deixar vestígios de sua presença e até, em certos casos, de tornar-se momentaneamente tangíveis, o que prova haver matéria entre vós e eles.”

“25ª Toda gente tem aptidão para ver os Espíritos?
Durante o sono, todos têm; em estado de vigília, não.”

(Ver casos de aparições de Espíritos na Revista Espírita: O Duende de Bayonne-Revista Espírita fevereiro de 1859 / Uma aparição providencial-Revista Espírita julho de 1861.

E, para encerrar a propriedade da in(visibilidade), nos resta apenas entender o porquê que alguns Espíritos não se veem. Vejamos:

“Não possuindo órgãos sensitivos, eles podem, livremente, tornar ativas ou nulas suas percepções. Uma só coisa são obrigados a ouvir: os conselhos dos Espíritos bons. A vista, essa é sempre ativa; mas, eles podem fazer-se invisíveis uns aos outros. Conforme a categoria que ocupem, podem ocultar-se dos que lhes são inferiores, porém não dos que lhes são superiores.”

 

11. LUMINOSIDADE

Essa é a última e uma das mais belas e interessantes propriedades do perispírito:

(...) “O perispírito possui, por natureza, uma propriedade luminosa que se desenvolve sob o império da atividade e das qualidades da alma. (...) O esplendor da luz é proporcional à pureza do Espírito; as menores imperfeições morais a ofuscam e enfraquecem. A luz que irradia de um Espírito é, assim, tanto mais viva quanto mais este é avançado.

Um Espírito pode aparecer sob forma luminosa, ou transformar uma parte do seu fluido perispirítico em foco luminoso.

(Recomendamos a leitura A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo > Os milagres > Capítulo XV - Os milagres do Evangelho > Estrela dos magos).

Analisando as informações acima entendemos que a propriedade luminosa do perispírito é proporcional ao estado evolutivo do Espírito. Quanto mais este é evoluído, mais sutil, mais etéreo é o perispírito e consequentemente mais luz ele irradia.

Uma observação a fazer é que essa luz dos Espíritos não tem similaridade com a nossa luz material, visto que esta é composta de matéria ponderável.

A esse respeito, a título de exemplo, trazemos o seguinte texto para mostrar que não é apenas a luz que conhecemos que existe no Universo:

24. Pois que a visão espiritual não se opera por meio dos olhos do corpo, segue-se que a percepção das coisas não se verifica mediante a luz ordinária: de fato, a luz material é feita para o mundo material; para o mundo espiritual, uma luz especial existe, cuja natureza desconhecemos, porém que é, sem dúvida, uma das propriedades do fluido etéreo, adequada às percepções visuais da alma. Há, portanto, luz material e luz espiritual. (...) O mundo espiritual é, pois, iluminado pela luz espiritual, que tem seus efeitos próprios, como o mundo material é iluminado pela luz solar.
A luz espiritual e a luz que irradia dos Espíritos são algumas das tantas criações exuberantes de beleza existente no Universo, presentes de Deus que desembalamos aos poucos.

  _____________________________________


Ver este texto também em: Roteiros de Estudos do IDEAK


Obras utilizadas:
1.     A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo
2.     O  Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores
3.     Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos -1858
4.     O Livro dos Espíritos
5.     O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo

 

Sugestões de Materiais Complementares


Origem, Forma, Perispírito - O LIVRO DOS ESPÍRITOS - SEGUNDA PARTE – com Cosme Massi

https://www.kardecplay.net/pt/video/7-origem-forma-perispirito


O perispírito - Seminário com Cosme Massi

https://www.youtube.com/watch?v=EVR4NP-g-GY

  


[1] Todos os grifos são nossos.

PERISPÍRITO - Propriedades - 1ª parte

Conteúdo:

O perispírito, que é o corpo fluídico do Espírito, formado a partir dos fluidos etéreos que compõe a atmosfera espiritual de cada globo, possui propriedades que caracterizam a sua natureza fluídica e que possibilitam ao Espírito interagir sobre a matéria.

Recomendamos a leitura preliminar dos textos sobre 1.Conceito e Importância do perispírito e 2.Natureza do perispírito.

Listamos abaixo as propriedades encontradas nas obras fundamentais do Espiritismo, escritas por Allan Kardec:

Listamos abaixo as propriedades encontradas nas obras fundamentais do Espiritismo, conforme Allan Kardec:

1.     Flexibilidade/Plasticidade

2.     Indestrutibilidade

3.     Mutabilidade

4.     Imponderabilidade

5.     Penetrabilidade

6.     Odor e Temperatura

7.     Expansibilidade 

8.     Sensibilidade geral

9.     Assimilação magnética

10.  In(visibilidade)/Tangibilidade

11.  Luminosidade

O estudo sobre as propriedades do perispírito será dividido em duas partes. Neste, abordaremos as seis primeiras propriedades listadas.  

1. FLEXIBILIDADE (PLASTICIDADE)

Uma das mais interessantes propriedades do perispírito é de poder se apresentar sob diferentes formas aos encarnados. Vejamos o que Kardec desenvolveu sobre esta propriedade, os motivos que o Espírito tem para alterar a sua aparência e como o perispírito possibilita essas mudanças.

O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo III - Da volta do Espírito, extinta a vida corpórea, à vida espiritual > A alma após a morte; sua individualidade. Vida eterna. > 150
“150. A alma, após a morte, conserva a sua individualidade[1]?
Sim; jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse?”

a) – Como constata a alma a sua individualidade, uma vez que não tem mais corpo material?
Continua a ter um fluido que lhe é próprio, haurido na atmosfera do seu planeta, e que guarda a aparência de sua última encarnação: seu perispírito.” 

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo I - Da ação dos Espíritos sobre a matéria > 56
“56. Ele tem a forma humana e, quando nos aparece, é geralmente com a que revestia o Espírito na condição de encarnado. (...) a matéria sutil do perispírito não possui a tenacidade, nem a rigidez da matéria compacta do corpo; é, se assim nos podemos exprimir, flexível e expansível, donde resulta que a forma que toma, conquanto decalcada na do corpo, não é absoluta, amolga-se à vontade do Espírito, que lhe pode dar a aparência que entenda, ao passo que o invólucro sólido lhe oferece invencível resistência. (...) o perispírito se dilata ou contrai, se transforma: presta-se, numa palavra, a todas as metamorfoses, de acordo com a vontade que sobre ele atua. Por efeito dessa propriedade do seu envoltório fluídico, é que o Espírito que quer dar-se a conhecer pode, em sendo necessário, tomar a aparência exata que tinha quando vivo, até mesmo com os acidentes corporais que possam constituir sinais para o reconhecerem.”

Ainda em O Livro dos Médiuns, Kardec vai inquirir a São Luís sobre essa questão. O Espírito São Luís, foi o guia espiritual da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritos (SPEE - o primeiro centro espírita, fundado e presidido por Kardec). Assim é o diálogo:

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo VI – Das manifestações visuais - 100
“28ª Podem os Espíritos tornar-se visíveis sob outra aparência que não a da forma hmana?
A humana é a forma normal. O Espírito pode variar-lhe a aparência, mas sempre com o tipo humano.”
 
“a) Não podem manifestar-se sob a forma de chama?
Podem produzir chamas, clarões, como todos os outros efeitos, para atestar sua presença; mas, não são os próprios Espíritos que assim aparecem. A chama não passa muitas vezes de uma miragem, ou de uma emanação do perispírito. Em todo caso, nunca é mais do que uma parcela deste. O perispírito não se mostra integralmente nas visões.”
“30ª Poderiam os Espíritos apresentar-se sob a forma de animais?
Isso pode dar-se; mas somente Espíritos muito inferiores tomam essas aparências. Em caso algum, porém, será mais do que uma aparência momentânea.”

Vejamos o texto da Revista Espírita de dezembro de 1858, onde encontramos uma informação preciosa sobre o perispírito ser flexível e plástico(moldável):

"É talvez a roupagem o que mais intriga; se, entretanto, considerarmos que ela faz parte do envoltório semimaterial, compreenderemos que o Espírito pode dar a esse envoltório a aparência de tal ou qual vestimenta, como a de tal ou qual fisionomia."

 

A última frase nos traz também uma informação valiosa a respeito das vestimentas com que os Espíritos se apresentam, nos possibilitando entender a simplicidade do processo. Realmente é muito lógico e natural que a roupa seja criada com os próprios fluidos perispirituais, mediante o desejo e a necessidade que o Espírito tem de se apresentar, inclusive com sinais exteriores, como vemos no seguinte texto:

“É assim, por exemplo, que um Espírito se apresenta à vista de um encarnado dotado de visão psíquica, sob a aparência que ele tinha quando vivo, na época em que o conheceram, embora depois tivesse tido várias encarnações. Ele se apresenta com a vestimenta, os sinais exteriores ─ enfermidades, cicatrizes, membros amputados etc. ─ que tinha então; um decapitado apresentar-se-á sem a cabeça. Isto não quer dizer que tenha conservado estas aparências. Certamente não, porque, como Espírito, ele não é coxo, nem maneta, nem caolho, nem decapitado, mas seu pensamento, reportando-se à época em que ele era assim, seu perispírito toma instantaneamente as aparências, que ele deixa instantaneamente, a partir do momento que o pensamento deixa de agir. Se, pois, uma vez ele foi negro e outra vez foi branco, apresentar-se-á como negro ou como branco, conforme aquela das duas encarnações sob a qual for evocado, e à qual se reportará seu pensamento.”

 

Preciosa informação! Todas as aparências que o Espírito impõe ao seu perispírito desaparecem tão logo seu pensamento deixa de atuar nesse propósito. 

2. INDESTRUTIBILIDADE

Essa propriedade do perispírito merece reflexão cuidadosa. Conforme a questão 83 de O Livro dos Espíritos, sabemos que os Espíritos não têm fim, ou seja, são imortais. No texto sobre conceito e importância do perispírito foi estudado que a alma necessita do seu perispírito como instrumento para agir na matéria, para perceber as sensações exteriores do mundo material e espiritual e para transmitir seu pensamento ao corpo ou a outros Espíritos. Assim, se a alma é imortal e necessita sempre do seu perispírito para interagir no Universo, somos induzidos a concluir que o perispírito é seu corpo imperecível.

Vejamos em Kardec se esse raciocínio está correto:

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo I - Da ação dos Espíritos sobre a matéria > 55
55. Hão dito que o Espírito é uma chama, uma centelha. Isto se deve entender com relação ao Espírito propriamente dito, como princípio intelectual e moral, a que se não poderia atribuir forma determinada. (...) De sorte que, para nós, a ideia de forma é inseparável da de Espírito e não concebemos uma sem a outra. O perispírito faz, portanto, parte integrante do Espírito, como o corpo o faz do homem.
 
9. Quando a alma está unida ao corpo, durante a vida, ela tem duplo invólucro: um pesado, grosseiro e destrutível — o corpo; o outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito.

A alma não se reveste do perispírito apenas no estado de Espírito; ela é inseparável desse envoltório, que a segue tanto na encarnação quanto na erraticidade. (...) Durante a vida, o fluido perispiritual identifica-se com o corpo, cujas partes todas penetra; com a morte, dele se desprende; privado da vida, o corpo se dissolve, mas o perispírito, sempre unido à alma, isto é, ao princípio vivificante, não perece.
 

Percebemos, mais uma vez, o quanto é lógica, coerente e bela a Doutrina Espírita! 

 3. MUTABILIDADE

Vimos que o perispírito é o corpo imperecível dos Espíritos e, embora já tenhamos citado sobre a natureza mutável do perispírito no texto sobre a natureza do perispírito, vamos rever o assunto sob a ótica de ser a mutabilidade uma das suas propriedades:

187. A substância do perispírito é a mesma em todos os mundos?
Não; ela é mais ou menos etérea. Passando de um mundo para outro o Espírito se reveste da matéria própria de cada um, com mais rapidez que um relâmpago.

 

8. Do meio onde se encontra é que o Espírito extrai o seu perispírito, isto é, esse envoltório ele o forma dos fluidos ambientes. Resulta daí que os elementos constitutivos do perispírito naturalmente variam, conforme os mundos. (...) Emigrando da Terra, o Espírito deixa aí o seu invólucro fluídico e toma outro apropriado ao mundo onde vai habitar.
 
Mas, qualquer que seja o grau em que se encontre, o Espírito está sempre revestido de um envoltório, ou perispírito, cuja natureza se eteriza, à medida que ele se depura e eleva na hierarquia espiritual. 

A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo > Os milagres > Capítulo XIV - Os fluidos > I - Natureza e propriedade dos fluidos > Formação e propriedade do perispírito > 10
Os Espíritos chamados a viver naquele meio tiram dele seus perispíritos; porém, conforme seja mais ou menos depurado o Espírito, seu perispírito se formará das partes mais puras ou das mais grosseiras do fluido peculiar ao mundo onde ele encarna.
Resulta disso este fato capital: a constituição íntima do perispírito não é idêntica em todos os Espíritos encarnados ou desencarnados que povoam a Terra ou o espaço que a circunda. (...)Também resulta que: o envoltório perispirítico de um Espírito se modifica com o progresso moral que este realiza em cada encarnação, embora ele encarne no mesmo meio; que os Espíritos superiores, encarnando excepcionalmente, em missão, num mundo inferior, têm perispírito menos grosseiro do que o dos indígenas desse mundo.

Resumindo: O perispírito possui a propriedade de modificar sua constituição fluídica, dependendo do mundo em que o Espírito possa se encontrar e da sua condição moral.  

4. IMPONDERABILIDADE

Essa propriedade é inerente à própria definição do perispírito. Vejamos:


4. Os Espíritos são seres individuais; têm um envoltório etéreo, imponderável, chamado perispírito, espécie de corpo fluídico, tipo da forma humana. 


7. No perispírito, a transformação molecular se opera diferentemente, porquanto o fluido conserva a sua imponderabilidade e suas qualidades etéreas. O corpo perispirítico e o corpo carnal têm, pois, origem no mesmo elemento primitivo; ambos são matéria, ainda que em dois estados diferentes.


9. A natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento moral do Espírito. Os Espíritos inferiores não podem mudar de envoltório a seu bel-prazer, pelo que não podem passar, à vontade, de um mundo para outro. Alguns há, portanto, cujo envoltório fluídico, se bem que etéreo e imponderável com relação à matéria tangível, ainda é por demais pesado, se assim nos podemos exprimir, com relação ao mundo espiritual, para não permitir que eles saiam do meio que lhes é próprio. Nessa categoria se devem incluir aqueles cujo perispírito é tão grosseiro, que eles o confundem com o corpo carnal, razão por que continuam a crer-se vivos.*

Os Espíritos superiores, ao contrário, podem vir aos mundos inferiores, e, até encarnar neles. Tiram, dos elementos constitutivos do mundo onde entram, os materiais para a formação do envoltório fluídico ou carnal apropriado ao meio em que se encontrem.


(*Exemplos de Espíritos que ainda se julgam deste mundo nas Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos de: 1859 > Dezembro > Um Espírito que não se acredita morto, 1864 > Novembro > Palestras familiares de além-túmulo > Sobre os Espíritos que ainda se julgam vivos,  1865 > Abril > Palestras familiares de além-túmulo > Pierre Legay, dito Grande Pierrot)

 

Observamos a respeito do que se entende por imponderável: a origem de toda a matéria existente no universo é o Fluido Cósmico Universal(FCU), que é matéria prima para tudo que existe de material no Universo (toda matéria etérea desconhecida para nós, os Espíritos denominam por “fluidos”). Assim, pelas inúmeras transformações que o FCU possibilita, tanto o corpo físico quanto o perispírito são oriundos dele, estando em estados diferentes da matéria. O perispírito é fluido etéreo, considerado imponderável em relação à nossa matéria tangível. Importante observar que os fótons-partículas que compõe a luz solar-, os elétrons e outras partículas subatômicas, possuem massa, que, mesmo sendo de grandeza muito pequena, ainda são matérias ponderáveis. 

 5. PENETRABILIDADE

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo VI – Das manifestações visuais > Ensaio teórico sobre as aparições > 106
106. Outra propriedade do perispírito inerente à sua natureza etérea é a penetrabilidade. Matéria nenhuma lhe opõe obstáculo: ele as atravessa todas, como a luz atravessa os corpos transparentes. Daí vem não haver tapagem capaz de obstar à entrada dos Espíritos.
 
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1864 > Abril > Resumo da lei dos fenômenos Espíritas 
7. ─ O fluido que compõe o perispírito penetra todos os corpos e os atravessa, como a luz atravessa os corpos transparentes. Nenhuma matéria é obstáculo para ele. É por isso que os Espíritos penetram em toda a parte, nos lugares mais hermeticamente fechados.

A comparação com a luz que atravessa os corpos transparentes é muito boa, visto que a luz, que é formada de matéria ponderável, é capaz de atravessar matérias sólidas e compactas, como determinados minerais, e, como se sabe atualmente de outras partículas que atravessam matérias até mesmo opacas e sólidas, com algum esforço conseguiremos imaginar a matéria fluídica do perispírito, que é imponderável, a atravessar todos os corpos materiais do Universo. 

 
6. ODOR E TEMPERATURA

Trazemos esses dois tópicos para esclarecer o que algumas pessoas sentem, especialmente em relação a odores:

 

138. São variadíssimos os meios de comunicação. Atuando sobre os nossos órgãos e sobre todos os nossos sentidos, podem os Espíritos manifestar-se à nossa visão, por meio das aparições; ao nosso tato, por impressões tangíveis, visíveis ou ocultas; à audição pelos ruídos; ao olfato por meio de odores sem causa conhecida. Este último modo de manifestação, se bem muito real, é, incontestavelmente, o mais incerto, pelas múltiplas causas que podem induzir em erro. Daí o nos não demorarmos em tratar dele.

57. (...) Sob a influência de certos médiuns, tem-se visto aparecerem mãos com todas as propriedades de mãos vivas, que, como estas, denotam calor, podem ser palpadas, oferecem a resistência de um corpo sólido, agarram os circunstantes e, de súbito, se dissipam, quais sombras. (...) A tangibilidade que revelam, a temperatura, a impressão, em suma, que causam aos sentidos, porquanto se há verificado que deixam marcas na pele, que dão pancadas dolorosas, que acariciam delicadamente, provam que são de uma matéria qualquer.


_______________________________________

Ver este texto também em: Roteiros de Estudos do IDEAK


Obras utilizadas:

1.     O Livro dos Espíritos
2.     O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores
3.     Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos
4.     O que é o Espiritismo?
5.     A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo
6.     O Espiritismo em sua mais simples expressão 
  



[1] Todos os grifos são nossos.