A VISÃO DOS ESPÍRITOS


O seguinte estudo é baseado nas informações contidas nas obras da Codificação Espírita e tem o objetivo de facilitar o entendimento sobre A VISÃO DOS ESPÍRITOS.

Muitas pessoas imaginam que os Espíritos* possuem olhos, tal qual os humanos têm, pois relacionam a aparência do Espírito, que possui a forma humana, à sua função fisiológica. Esse entendimento é uma das consequências da nossa tendência em materializar as coisas espirituais, sempre fazendo analogias com o que conhecemos. Um estudo atencioso das obras fundamentais da Doutrina Espírita, cuja autoria é de Espíritos superiores em conjunto com outro igual, em estado de encarnado, o nobre e querido mestre, Allan Kardec, nos permite compreender esse assunto de forma clara e inequívoca.

Encontramos vários textos nas obras escritas por Kardec em que trata das percepções dos Espíritos. No estudo presente vamos nos limitar à percepção da VISÃO dos Espíritos.

Para iniciarmos, escolhemos a seguinte questão de O Livro dos Espíritos - (OLE) - para trazer esse esclarecimento:

                   245. Os Espíritos têm circunscrita a visão, como os seres corpóreos?

                   R: “Não, ela reside neles.”

* O termo Espíritos se refere ao estado dos seres humanos desencarnados, um ser duplo, composto de alma e seu corpo espiritual.

A resposta acima nos faz questionar ONDE, então, reside a visão dos Espíritos, já que a visão não é circunscrita, como nos seres corpóreos, pois estes possuem um órgão específico para tal, os olhos.

Os Espíritos superiores ao responderem a Kardec a respeito da definição sobre o que são os Espíritos, informam que a nossa linguagem é deficiente no sentido de poderem usar algum termo de comparação para que pudessem nos explicar. Contudo, informam que os Espíritos são os seres inteligentes da criação, que é a matéria quintessenciada, tão etérea que escapa inteiramente ao alcance dos nossos sentidos e entendimento e que, por isso, inexiste termo que servisse de analogia que pudessem usar para fazer uma comparação.

De posse desse entendimento Kardec então pergunta aos Espíritos, ainda em OLE:

          93. O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem alguns, está sempre envolto numa substância qualquer?

R: “Envolve-o uma substância, vaporosa para ti, mas ainda bastante grosseira para nós; extremamente vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.”

A esse envoltório vaporoso do Espírito, Kardec denominou de Perispírito.

Ao longo das vinte e três obras escritas por Allan Kardec, encontramos algumas outras definições e conceitos sobre o perispírito, mas é na definição abaixo, que consta no livro A Gênese - capítulo XIV, item II, que vamos encontrar a resposta que mais satisfaz ao nosso estudo em questão:

O perispírito é o órgão sensitivo do Espírito, por meio do qual este percebe coisas espirituais que escapam aos sentidos corpóreos. Pelos órgãos do corpo, a visão, a audição e as diversas sensações são localizadas e limitadas à percepção das coisas materiais; pelo sentido espiritual, ou psíquico, elas se generalizam: o Espírito vê, ouve e sente, por todo o seu ser, tudo o que se encontra na esfera de irradiação do seu fluido perispirítico.

É interessante observar a afirmação de Kardec de que o perispírito é o órgão sensitivo do Espírito, ou seja, o órgão que permite ao Espírito obter, de forma generalizada, as sensações e percepções do mundo exterior e ao alcance da sua irradiação fluídica.

Tendo esclarecido que a visão dos Espíritos se faz por todo o seu perispírito, outros questionamentos se fazem consequentes, tais como:

   1. É necessário que haja luz para que os Espíritos vejam?
2. Por que alguns Espíritos dizem estar nas trevas?
3. Existe obstáculo material que impeça a visão dos Espíritos?
4.
Todos os Espíritos possuem o mesmo alcance de visão?

Para todas essas questões temos respostas dos Espíritos superiores que participaram da Codificação Espírita, respostas estas admitidas pelo Controle Universal do Ensino dos Espíritos e sancionadas pelo pensamento criterioso, lógico e racional de Allan Kardec.

Assim, passemos para o estudo sobre os questionamentos acima. Segue o primeiro:

1. É necessário que haja luz para que os Espíritos vejam?

Em OLE encontramos uma pergunta de Kardec bem específica sobre esse assunto:

246. Precisam (os Espíritos) da luz para ver?

Veem por si mesmos, sem precisarem de luz exterior.

Ou ainda em OLE, no capítulo VI - Ensaio teórico da sensação dos Espíritos:

Pelo que concerne à vista, essa, para o Espírito, independe da luz qual a temos. A faculdade de ver é um atributo essencial da alma, para quem a obscuridade não existe.

As respostas são precisas em esclarecer que a visão do Espírito é um atributo da alma, ou seja, é uma propriedade essencial da alma, e deduzimos que não existe lugar, por mais obscuro que seja, em que os Espíritos não possam ver.

As duas explicações acima nos deixam agora com outra indagação, pois sabemos que não poucos Espíritos se comunicam em reuniões mediúnicas relatando seu sofrimento no mundo espiritual, descrevendo que estão no escuro, que tudo é obscuridade, trevas. Como entender então esses relatos?

Essa questão nos remete à nossa segunda pergunta proposta para este estudo:

2.   Por que alguns Espíritos dizem estar nas trevas?

Para esta suposição existiriam duas possibilidades:

a)   Existem lugares obscuros (trevas) no mundo espiritual;
b)  Alguns Espíritos podem perder a visão.

Vejamos a primeira possibilidade:

É perfeitamente possível imaginarmos um local escuro no mundo espiritual, visto que essa situação é real no mundo material. Ao olharmos o céu à noite percebemos muito mais espaços sem luz do que iluminado pelas estrelas. Não seriam esses espaços regiões demasiado escuras onde o Espírito nada pudesse enxergar? Ou ainda, poderia haver alguns lugares específicos em que não houvesse luz?

Em A Gênese, capítulo XIV, Kardec discorre exatamente sobre a luz espiritual:

24. Pois que a visão espiritual não se opera por meio dos olhos do corpo, segue-se que a percepção das coisas não se verifica mediante a luz ordinária: de fato, a luz material é feita para o mundo material; para o mundo espiritual, uma luz especial existe, cuja natureza desconhecemos, que é, sem dúvida, uma das propriedades do fluido etéreo, adequada às percepções visuais da alma. Há, portanto, luz material e luz espiritual. A primeira emana de focos circunscritos aos corpos luminosos; a segunda tem o seu foco em toda parte.

Ou seja, nossos sentidos materiais são insuficientes para perceber uma luz especial presente no fluido etéreo, ou universal, que ilumina o mundo espiritual e que é apropriada à percepção da visão dos Espíritos e, por isso, não existem lugares escuros para eles.

Para a segunda possibilidade temos o complemento da resposta à questão 246 acima que traz o seguinte:

246 .... Para os Espíritos não há trevas, salvo os que podem achar-se por expiação.

Notamos que foi introduzido uma informação nova, cuja ideia está também na seguinte passagem da obra O Que é o Espiritismo (OQE), capítulo II:

“17. Os Espíritos possuem todas as percepções que tinham na Terra, porém em grau mais alto, porque as suas faculdades não estão amortecidas pela matéria; eles têm sensações desconhecidas por nós, veem e ouvem coisas que os nossos sentidos limitados nos não permitem ver nem ouvir. Para eles não há obscuridade, excetuando-se aqueles que, por punição, se acham temporariamente nas trevas.”

O complemento da resposta da questão 246 de OLE, bem como o item 17 de OQE, destacados acima, podem deixar alguns leitores bastante intrigados necessitando de mais reflexões.

A primeira reflexão seria a de poder o Espírito expiar suas faltas durante a erraticidade?

Muitos entendem que a punição ou expiação apenas se dá no mundo corporal, quando estamos encarnados. Para esse esclarecimento escolhemos a seguinte questão de OLE para trazer a explicação necessária:

998. A expiação se cumpre no estado corporal ou no estado espiritual?

A expiação se cumpre, durante a existência corporal, mediante as provas a que o Espírito se acha submetido e, na vida espiritual, pelos sofrimentos morais inerentes ao estado de inferioridade do Espírito.”

Assim, concluímos que alguns Espíritos podem ter a visão espiritual obliterada (anulação da percepção visual), não por existirem lugares de trevas no mundo espiritual nem porque podem perder a visão, mas sim por sofrerem uma punição ou expiação, em obediência às leis divinas.

Como sabemos que todos os Espíritos progridem, e que todos irão passar e vencer suas provas e expiações, deduzimos que esse estado de obliteração visual é equivalente à duração da expiação na vida espiritual.

Então, o que condiciona para que os Espíritos se livrem dessa obliteração visual temporária?

Na obra O Céu e o Inferno, capítulo VII – Código penal da vida futura, Kardec esclarece sobre a condição para o término da expiação na vida espiritual: “Assim que se manifestam nele as primeiras luzes do arrependimento, Deus lhe faz entrever a esperança”.  Ou seja, o arrependimento é condição necessária para que o Espírito saia da situação de expiação que anulava a sua percepção de ver e poder então recuperar a sua visão espiritual, obliterada provisoriamente.

E continua no mesmo capítulo:

“Para o criminoso, a visão incessante de suas vítimas e das circunstâncias do crime é um cruel suplício.

Certos Espíritos estão mergulhados em espessas trevas; outros estão num isolamento absoluto no meio do espaço, atormentados pela ignorância de sua posição e de seu destino. Os mais culpados sofrem torturas tanto mais pungentes quanto não lhes veem o fim. Muitos são privados da visão dos seres que lhes são caros. Todos, geralmente, suportam com intensidade relativa os males, as dores e as necessidades que fizeram suportar aos outros, até que o arrependimento e o desejo de reparação venham trazer um alívio, fazendo entrever a possibilidade de pôr, por si mesmo, um fim a essa situação.”

Colocamos abaixo um pequeno trecho da História de um Danado, relatada na Revista Espírita de fevereiro/1860, em que São Luís responde a uma pergunta de Kardec:

“14. ─ Esse Espírito é sofredor e infeliz. Podeis descrever o gênero de sofrimento que experimenta?

─ Ele está persuadido de que terá de ficar eternamente na situação em que se encontra. Vê-se constantemente no momento em que praticou o crime. Qualquer outra lembrança lhe foi apagada e qualquer comunicação com outro Espírito foi interdita. Na Terra, só pode ficar naquela casa, e quando no espaço, nas trevas e na solidão.”

Essa história é muito interessante e comovente e o leitor tem a oportunidade de acompanhar a modificação moral desse Espírito até o momento em que ele se arrepende dos crimes cometidos.

Sigamos para o nosso terceiro questionamento:

3.   Existe obstáculo material que impeça aos Espíritos de verem?

“25. Assim, envolta no seu perispírito, a alma tem consigo o seu princípio luminoso. Penetrando a matéria por virtude da sua essência etérea, não há, para a sua visão, corpos opacos.”

Esse trecho se encontra no livro A Gênese, capítulo XIV, quando Kardec faz o estudo das formas que a alma tem de se emancipar.

“No Espírito, a faculdade de ver é uma propriedade inerente à sua natureza e que reside em todo o seu ser, como a luz reside em todas as partes de um corpo luminoso. É uma espécie de lucidez (claridade) universal que se estende a tudo, que abrange simultaneamente o espaço, os tempos e as coisas, lucidez para a qual não há trevas, nem obstáculos materiais. Compreende-se que deva ser assim. No homem, a visão se dá pelo funcionamento de um órgão que a luz impressiona. Daí se segue que, não havendo luz, o homem fica na obscuridade. No Espírito, como a faculdade de ver constitui um atributo seu, abstração feita de qualquer agente exterior, a visão independe da luz.”

No mesmo capítulo, ele diz que a luz espiritual “tem seu foco em toda parte: tal a razão por que não há obstáculo para a visão espiritual, que não é embaraçada nem pela distância, nem pela opacidade da matéria, não existindo para ela a obscuridade. O mundo espiritual é, pois, iluminado pela luz espiritual, que tem seus efeitos próprios, como o mundo material é iluminado pela luz solar.

Ou ainda:

“Assim, envolta no seu perispírito, a alma tem consigo o seu princípio luminoso. Penetrando a matéria por virtude da sua essência etérea, não há, para a sua visão, corpos opacos.”

Uma outra história narrada na Revista Espírita de maio/1859, sob o título Cenas da vida particular espírita, um Espírito leviano trava um diálogo com um médium que, em determinado momento da conversa, assim lhe pergunta:

                        “12. ─ Dize-me, então, como entraste aqui.

─ Esta é boa! Porventura temos necessidade de tocar a campainha?

 

13. ─ Então podes ir a toda parte e entrar em qualquer lugar?

─ Mas é claro que sim, e sem fazer-me anunciar! Não é à toa que somos Espíritos”.

 

A leitura dessa história é muito indicada para a instrução de todo estudioso espírita, pois tem aí a oportunidade de também apreciar a modificação do estado moral do Espírito mediante a conversa fraterna e conselhos que recebe.

Passemos agora para quarto e último questionamento:

4.   Todos os Espíritos possuem o mesmo alcance de visão?

Depois de todas essas preciosas informações sobre a visão dos Espíritos dadas por Kardec e pelos Espíritos da Codificação espírita, ainda mais uma se formula, mediante o conhecimento de que existem Espíritos de inúmeros graus de aperfeiçoamento. Então, naturalmente, uma questão a mais se delineia: A visão dos Espíritos é igual para todos, ou o alcance da visão pode variar com o nível evolutivo do Espírito?

Em O céu e o inferno - Capítulo III - O céu - encontramos o seguinte texto: 

Os Espíritos são criados simples e ignorantes, mas com a aptidão de adquirir tudo e de progredir, em virtude de seu livre-arbítrio. Pelo progresso, eles adquirem novos conhecimentos, novas faculdades, novas percepções, e, por conseguinte, novos prazeres desconhecidos dos Espíritos inferiores; eles veem, ouvem, sentem e compreendem o que os espíritos atrasados não podem ver, nem ouvir, nem sentir, nem compreender.

E em OLE, no capítulo VI - Ensaio teórico da sensação dos Espíritos, temos:

É, contudo, mais extensa, mais penetrante nas mais purificadas. A alma, ou o Espírito, tem, pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções. Estas, na vida corpórea, se obliteram pela grosseria dos órgãos do corpo; na vida extracorpórea, se vão desanuviando, à proporção que o envoltório semimaterial se eteriza.”

Essa explicação é muito lógica e fácil de compreender, pois à proporção que o Espírito evolui, sua visão, que se faz através do perispírito, vai se ampliando ao atravessar os fluidos perispirituais cada vez mais etéreos. É como ver, inicialmente, através de um vidro embaçado e que, gradualmente, vai ficando transparente até não se perceber mais que existe.

Em A gênese - Capítulo XIV, ainda temos uma excelente explicação:

“Assim, envolta no seu perispírito, a alma tem consigo o seu princípio luminoso. Penetrando a matéria por virtude da sua essência etérea, não há, para a sua visão, corpos opacos. Entretanto, a vista espiritual não é idêntica, quer em extensão, quer em penetração, para todos os Espíritos. Somente os Espíritos puros a possuem em todo o seu poder. Nos inferiores ela se acha enfraquecida pela relativa grosseria do perispírito, que se lhe interpõe qual nevoeiro.”

Por isso que, embora estando um ao lado do outro, um (Espírito) pode estar nas trevas, ao passo que tudo é resplandecente à volta do outro, absolutamente como para um cego e alguém que vê, que se dão as mãos: um percebe a luz, a qual não faz nenhuma impressão no seu vizinho. - O céu e o inferno - Capítulo III - O céu.

Segue abaixo o relato de dois Espíritos ante à felicidade de poderem ver, sentir e fazer coisas inéditas no mundo espiritual ao saírem melhores, mais evoluídos, de uma encarnação. 


“Para a alma que aspira à liberdade, como é longo o tempo na Terra, e como se faz esperar o momento tão sonhado! Mas, também, uma vez rompido o laço, com que rapidez o Espírito corre e voa para o reino celeste, que em vida via em sonhos e ao qual aspirava sem cessar! O belo, o infinito, o impalpável, todos os mais puros sentimentos, eis o apanágio dos que desprezam os tesouros humanos, querendo avançar no caminho reto do bem, da caridade e do dever. Tenho minha recompensa e sou muito feliz, porque agora não mais espero visitas daqueles que me são caros; agora não há mais limites para a minha visão, e esse sofrimento, esse longo emagrecimento do corpo terminou; sou alegre, contente, cheia de vivacidade. Não espero mais visitantes, eu vou visitá-los.

ERNESTINE DOZON.   – Revista Espírita de outubro/1867 – Os Adeuses

 

E no diálogo de Allan Kardec com a Sra. Duret, na RE de junho de 1860:

 

47. ─ O mundo dos Espíritos vos pareceu uma coisa estranha e nova?

─ Oh! Sim.

 

48. ─ Esta resposta nos admira, porque não é a primeira vez que vos achais no mundo dos Espíritos.

─ Isto nada tem de que se deva admirar. Eu não era tão adiantada quanto hoje. E depois, a diferença é tão grande entre o mundo corporal e o dos Espíritos, que surpreende sempre.

 

49. ─ Vossa explicação poderia ser mais clara. Isto não seria porque cada vez que se retorna ao mundo dos Espíritos, os progressos realizados dão novas percepções e permitem encará-lo sob outro aspecto?

─ É bem isto. Eu vos disse que não era tão adiantada quanto hoje.

Essa lei que rege as percepções dos Espíritos, nos remete também ao estado de felicidade relativa que cada um está submetido, que é inerente às qualidades que adquirem. Quanto mais evoluídos são os Espíritos, mais felizes são, mais percepções possuem, e sua visão vai alcançando cada vez mais as belezas da criação divina, esplendores do mundo espiritual, descortinados aos poucos, à proporção que também cresce a visão e compreensão de Deus.

O SURGIMENTO DO MAL EM NÓS


O Espiritismo trouxe elucidações filosóficas de importância fundamental para a compreensão da existência humana. Questões primordiais como a nossa origem, o propósito da vida, o nosso destino após a morte são algumas que os Espíritos esclareceram nesta doutrina de revelação divina.

Essas questões são abordadas nas obras fundamentais do Espiritismo, que são os vinte e três livros escritos pelo missionário Allan Kardec, obtidos através do seu valioso trabalho, realizado com perfeição, durante quatorze anos de observações, comunicações e ensinamentos dos Espíritos. E, fato primordial, sob a orientação maior do Espírito puro, dirigente espiritual do nosso planeta, o Mestre da nossa humanidade, Jesus, que se identifica em mensagens como O Espírito de Verdade.

É nessas obras que nos baseamos para trazer o estudo sobre tema tão importante e fundamental, que nos dá uma amostra da infinitude da bondade e justiça de Deus.

Vejamos incialmente sobre a nossa origem, em O Livro dos Espíritos, questão 81[1]:

“Os Espíritos se formam espontaneamente, ou procedem uns dos outros?
Deus os cria, como a todas as outras criaturas, pela sua vontade [2].”

E é sobre a criação do Espírito que Kardec faz uma observação na Revista Espírita de maio de 1861[3]:

“Os Espíritos[4] saem das mãos do Criador simples e ignorantes, mas nem são bons, nem maus, pois do contrário, desde a sua origem, Deus teria votado uns ao bem e à felicidade, e outros ao mal e à desgraça, o que não estaria em concordância nem com a sua bondade, nem com a sua justiça.”

O ser simples e ignorante, que não é bom nem mau, expressa a condição de desconhecimento de qualquer coisa, ou seja, o Espírito, no início da sua existência, não possui qualquer conhecimento, saber, virtudes, vícios, nem sequer o livre-arbítrio.

ØComo o Espírito conquistou o LIVRE ARBÍTRIO?

Vejamos um texto, constante na Revista Espírita de janeiro de 1864[5], que esclarece exatamente essa questão:

“Progresso nas primeiras encarnações.

"Ignoramos absolutamente em que condições se dão as primeiras encarnações da alma, porque é um dos princípios das coisas que estão nos segredos de Deus. Apenas sabemos que são criadas simples e ignorantes, tendo todas, assim, o mesmo ponto de partida, o que é conforme à justiça. O que também sabemos é que o livre-arbítrio só se desenvolve pouco a pouco, e após numerosas evoluções na vida corpórea. Não é, pois, nem após a primeira, nem após a segunda encarnação que a alma tem consciência bastante nítida de si mesma para ser responsável por seus atos. Pode ser que só aconteça após a centésima ou talvez após a milésima.

(...) “Durante longos períodos, a alma encarnada é submetida à influência exclusiva do instinto de conservação. Pouco a pouco esses instintos se transformam em instintos inteligentes, ou melhor, se equilibram com a inteligência, e só mais tarde, e sempre gradativamente, a inteligência domina os instintos. Só então é que começa a séria responsabilidade.

Apreendemos deste texto que o Espírito, em suas centenas ou milhares de encarnações, enquanto “simples e ignorante”, substitui aos poucos os instintos materiais pelos inteligentes até desenvolver a inteligência o suficiente para agir com livre arbítrio. É a partir deste momento que o Espírito pode ser responsabilizado por suas escolhas. Só então pode ter a culpa do mal praticado ou o mérito do bem realizado.

Antes de avançarmos nesta linha do tempo com o estudo do surgimento do mal em nós, é importante ainda fazer algumas considerações a respeito dessa fase inicial do Espírito.

Os Espíritos simples e ignorantes, por não terem ainda responsabilidade dos seus atos, não podem ser classificados como maus, embora sejam Espíritos selvagens e vivam em mundos primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma, onde imperam os instintos e vivem com o objetivo único de sobrevivência. Vejamos o texto seguinte constante da Revista Espírita de junho 1863[6], que esclarece sobre a isenção do mal nos atos dos Espíritos primitivos, exatamente por agirem sob o domínio do instinto de conservação:

(...) “Criado simples e ignorante, o Espírito está, em sua origem, num estado de nulidade moral e intelectual, como a criança que acaba de nascer. Se não fez o mal, também não fez o bem; não é feliz nem infeliz; age sem consciência e sem responsabilidade.”

Portanto, se o Espírito em sua condição de simples e ignorante age sem consciência e sob o domínio do instinto de conservação, não pode lhe ser atribuída a responsabilidade do bem ou do mal que fizer.

Ø E o que é a CONSCIÊNCIA?

Aprendemos na Doutrina Espírita que a consciência é onde estão “escritas” as leis de Deus [7]. Entretanto, devemos entender que estas leis nós vamos “escrevendo” à proporção que as aprendemos, pois fomos criados sem nenhum saber.

Encontramos a seguinte definição de “consciência” em O que é o Espiritismo, cap III, item 127 [8]:

“Qual a origem do sentimento a que chamamos consciência?
É uma recordação intuitiva do progresso feito nas precedentes existências e das resoluções tomadas pelo Espírito antes de encarnar, resoluções que ele, muitas vezes, esquece como homem.”

Este esclarecimento é de extrema importância. Oferece duas grandes reflexões. Vejamos a primeira:

1.   A CONSCIÊNCIA SE FORMA MEDIANTE O PROGRESSO (APRENDIZADO GRADUAL DAS LEIS DE DEUS), ADQUIRIDO EM NOSSAS ANTERIORES EXISTÊNCIAS CORPÓREAS E PELAS RESOLUÇÕES QUE TOMAMOS NO MUNDO ESPIRITUAL.

Este é o motivo pelo qual, no período em que éramos simples e ignorantes, não podíamos ser responsabilizados pelos atos selvagens praticados contra os semelhantes, visto que não tínhamos a consciência de que estes podiam ser contra as leis de Deus, pois ainda não as tínhamos aprendido.

Retornando à linha do tempo, onde o Espírito está apto a fazer suas escolhas, encontramos a seguinte frase de Kardec no livro A Gênese, cap XI, item 23 [9]:

“Sem, pois, pesquisarmos a origem do Espírito, sem procurarmos conhecer as fieiras pelas quais haja ele, porventura, passado, tomamo-lo ao entrar na humanidade, no ponto em que, dotado de senso moral e de livre-arbítrio, começa a pesar-lhe a responsabilidade dos seus atos.”

Kardec se refere exatamente ao ponto em que o Espírito está apto a fazer sua primeira escolha e iniciar sua caminhada de progresso. Notemos que um elemento novo aparece nesta frase: o senso moral, que, ao lado do livre-arbítrio faculta o Espírito a assumir a responsabilidade de seus atos

Os Espíritos esclarecem em O Livro dos Espíritos, questão 754 [10], que o senso moral existe no homem como um princípio. Em outro texto, que encontramos na Revista Espírita de agosto de 1867[11], diz que “o senso moral é, propriamente falando, a consciência.”

Uma reflexão que podemos fazer é que, neste ponto da caminhada do Espírito, a que Kardec se refere como “ao entrar na humanidade”, ele deve deixar os mundos primitivos para encarnar em mundos de provas, dando início à realização de suas provas.

Assim, podemos considerar que, num mundo de provas, o Espírito possui inteligência, livre-arbítrio e senso moral suficientes para guiar-lhe nas escolhas em conformidade às leis de Deus. Isso é lógico, visto que Deus, infinitamente justo, não responsabilizaria o Espírito por usar o livre-arbítrio ao acaso, na realização de suas provas, e falir em suas escolhas.

Então, questionamos:

ØQuando o Espírito possui o mínimo necessário de consciência para poder escolher acertadamente?

As seguintes questões de O Livro dos Espíritos, questão 262 [12], no capítulo da Escolha das provas elucidam estas perguntas.  Vejamos:

"262. Como pode o Espírito, que, em sua origem, é simples, ignorante e carecido de experiência, escolher uma existência com conhecimento de causa e ser responsável por essa escolha?
Deus lhe supre a inexperiência, traçando-lhe o caminho que deve seguir, como fazeis com a criancinha. Pouco a pouco, porém, à medida que o seu livre-arbítrio se desenvolve, deixa-o senhor de proceder à escolha. (...).” 

Podemos entender que temos nossas primeiras existências escolhidas/traçadas por Deus, que nos conduzirão por experiências iniciais, a fim de desenvolvermos a inteligência, adquirindo um aprendizado suficiente até o momento em que conquistamos a capacidade de escolher livremente, com a consciência obtida desse aprendizado inicial conduzido por Deus.

Esse é o ponto que Kardec se referiu ao considerar o estudo do Espírito a partir de quando este entra na humanidade capaz de assumir a responsabilidade de seus atos.

Encontramos no mesmo capítulo de Escolha das Provas, em O Livro dos Espíritos, na resposta à questão 258.a [13], outro esclarecimento sobre quando Deus deixa ao Espírito a responsabilidade de fazer suas escolhas e as suas consequências:

“Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das consequências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal.

É assim que Deus nos deixa fazer nossas próprias escolhas, após conduzir-nos por um período de experiências, que nos desenvolve o livre arbítrio, que é a capacidade de pensarmos com inteligência, ao mesmo tempo que despontamos com o princípio do senso moral. Tudo isso nos capacita a tomar decisões baseadas no aprendizado inicial que fazemos das leis de Deus, armazenando-os em nossa consciência recém-iniciada, para podermos ser responsáveis pela causa do bem ou do mal que causarmos.

Então, se temos condições suficientes de inteligência e senso moral para livremente escolher, perguntamos: O que nos faz provocar o mal em detrimento da consciência?

Esta é a segunda reflexão que fazemos da questão 127 do livro O que é o Espiritismo, transcrita acima. Vejamos:

2.     O ESQUECIMENTO DA CONSCIÊNCIA ENQUANTO ENCARNADOS.

Façamos inicialmente uma pertinente indagação: Por que precisamos encarnar? Não poderíamos evoluir apenas no mundo espiritual, que é o mundo normal do Espírito?

Vejamos a resposta para esse questionamento descrita no livro O Evangelho segundo o Espiritismo, cap IV, item 25[14]:

“A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária, a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência.”

ØQuais ações temos que exercer nos mundos materiais?

Em A Gênese, cap XI, item 24 [15], temos:

“A obrigação que tem o Espírito encarnado de prover ao alimento do corpo, à sua segurança, ao seu bem-estar, o força a empregar suas faculdades em investigações, a exercitá-las e desenvolvê-las. Útil, portanto, ao seu adiantamento é a sua união com a matéria. Daí o constituir uma necessidade a encarnação.”

A ação sobre a matéria nos coloca sob as leis divinas, como a de conservação, de trabalho, de sociedade, de igualdade etc., possibilitando-nos desenvolver a inteligência, cumprir as provas e, consequentemente, progredirmos moralmente, pelo aprendizado e compreensão dessas leis.

Ø A ação do Espírito sobre a matéria é sempre salutar para seu desenvolvimento?

Na Introdução de O Livro dos Espíritos, item VI [16], Kardec lista os pontos principais do Espiritismo e cita o seguinte:

O Espírito encarnado se acha sob a influência da matéria; o homem que vence essa influência, pela elevação e depuração de sua alma, se aproxima dos Espíritos bons, com os quais um dia estará. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, se aproxima dos Espíritos impuros, dando preponderância à natureza animal.”

Portanto, a ação sobre a matéria nos possibilita conhecer as leis de Deus, contudo, essa mesma matéria, exercendo influência sobre nós, pode nos despertar “apetites grosseiros”, se nos deixarmos dominar pelas “más paixões”.

Ø O que são APETITES GROSSEIROS?

Vejamos as questões do capítulo sobre a Lei de Conservação, em O Livro dos Espíritos [17]:

“712. Com que fim pôs Deus atrativos no gozo dos bens materiais?
“Para instigar o homem ao cumprimento da sua missão e para experimentá-lo por meio da tentação.”

 “712. a) Qual o objetivo dessa tentação?

“Desenvolver-lhe a razão*, que deve preservá-lo dos excessos**.”

*A razão é resultado da inteligência quando aplicada conforme a consciência.
**Excessos em relação ao uso da matéria.

Nota de Kardec à questão 712.a:

“Se o homem só fosse instigado a usar dos bens terrenos pela utilidade que têm, sua indiferença teria talvez comprometido a harmonia do universo. Deus imprimiu a esse uso o atrativo do prazer, porque assim é o homem impelido ao cumprimento dos desígnios providenciais. Mas, além disso, dando àquele uso esse atrativo, quis Deus também experimentar o homem por meio da tentação que o arrasta para o abuso, de que deve a razão defendê-lo.”

Observação: Impelir o homem para o cumprimento dos desígnios de Deus são as provas pelas quais passamos durante as encarnações a fim de cumprirmos a Lei de Progresso.

Continuando no mesmo capítulo, vejamos a questão 713:

“Traçou a natureza limites aos gozos?
Traçou, para vos indicar o limite do necessário. Mas, pelos vossos excessos, chegais à saciedade e vos punis a vós mesmos.”

Comentário de Kardec à questão 714:

“O homem que procura nos excessos de todo gênero o requinte do gozo coloca-se abaixo do animal, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua necessidade. Tal homem abdica da razão que Deus lhe deu por guia, e quanto maiores forem seus excessos, tanto maior preponderância ele atribui à sua natureza animal sobre a sua natureza espiritual.”

Portanto, a influência da matéria pode despertar em nós os apetites grosseiros, que são os prazeres em excesso que introduzimos em nossa vida, através do uso excessivo dos bens terrenos, que nos faz ESQUECER, quando encarnados, o aprendizado adquirido e armazenado na consciência, bem como as resoluções que tomamos antes de encarnar, ou seja, as nossas resoluções para vencer as provas escolhidas. É a negligência à voz da consciência. 

Continuemos com a questão sobre o porquê escolhemos errado e o porquê abusamos dos bens terrenos. Para isso introduziremos um tema essencial para essa compreensão: As Paixões.

Ø O que são as PAIXÕES?

Kardec nos traz noções básicas a respeito do que são as paixões em O Livro dos Espíritos, questões sobre as PAIXÕES [18]:

“908. As paixões nascem principalmente das necessidades do corpo e dependem, mais do que o instinto, do organismo. O que, acima de tudo, as distingue do instinto é que são individuais e não produzem, como este último, efeitos gerais e uniformes; variam, ao contrário, de intensidade e de natureza, conforme os indivíduos.

Importante refletir que, se tivéssemos que sempre suprir nossas necessidades através do instinto não desenvolveríamos a inteligência. A paixão é o princípio providencial que Deus colocou em nós que desperta sentimentos/desejos que objetivam ações a fim de satisfazer nossas necessidades naturais, com o uso da inteligência e do livre-arbítrio, e, por esse motivo, varia de intensidade e natureza para cada indivíduo. A paixão é o móvel providencial de Deus que nos impele ao uso racional da matéria durante nosso processo evolutivo.

Vejamos o que mais Kardec nos traz neste capítulo sobre as paixões:

“907. Será intrinsecamente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na natureza?
“Não; a paixão* está no excesso de que se acresceu à vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal.

*Como veremos abaixo, essa referência está relacionada à “má paixão”, ou “à paixão propriamente dita”, e não ao princípio providencial das paixões ou das boas paixões.

“908. Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más?
“As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado, e que se torna perigoso quando passa a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la, e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos ou para outrem.
“As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos desígnios da Providência. Mas se, em vez de as dirigir, deixa que elas o dirijam, cai o homem nos excessos e a própria força que, manejada pelas suas mãos, poderia produzir o bem, contra ele se volta e o esmaga.

“Todas as paixões têm seu princípio num sentimento ou necessidade natural [19]. O princípio das paixões não é, assim, um mal, pois que assenta numa das condições providenciais da nossa existência. A paixão propriamente dita é a exageração de uma necessidade ou de um sentimento. está no excesso e não na causa, e este excesso se torna um mal quando tem como consequência um mal qualquer.”

Podemos, então, resumir sobre o que realmente causa o mal:

· OS APEPITES GROSSEIROS CAUSADOS PELA NÃO RESISTÊNCIA À INFLUÊNCIA DA MATÉRIA.

·  O EXCESSO QUE A VONTADE ACRESCE AO PRINCÍPIO PROVIDENCIAL DAS PAIXÕES.

·  O ABUSO DE UMA NECESSIDADE OU SENTIMENTO, RESULTANDO EM MÁS ESCOLHAS.

Esse abuso cometido pela primeira vez é o que simboliza a queda do homem. O momento primeiro em sua caminhada evolutiva em que desatende à consciência, fazendo mal uso do seu livre-arbítrio e cometendo erro em uma ação qualquer. Mal que comete contra ele próprio e/ou ao seu semelhante. Mal que o desvia do caminho do bem.

É o que encontramos na resposta à questão 122 de O Livro dos Espíritos [20]:

“O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Já não haveria liberdade, se a escolha fosse determinada por uma causa independente da vontade do Espírito. A causa não está nele, está fora dele, nas influências a que cede em virtude da sua livre vontade. É o que se contém na grande figura emblemática da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação, outros resistiram.”

Aproveitamos o assunto para trazer um entendimento equivocado, no meio espírita, sobre a ideia de que todos os Espíritos passam pela Terceira ordem da Escala Espírita, ou seja, a dos Espíritos Imperfeitos, caracterizados por possuírem vícios morais, consequências de suas más escolhas. No capítulo sobre a Progressão dos Espíritos, em O Livro dos Espíritos [21], vamos compreender que essa situação da “queda do homem” ou do primeiro erro cometido, erro que desvia o Espírito do caminho reto do bem, não acontece obrigatoriamente para todos os Espíritos, ou seja, nem todos os Espíritos passam pela Terceira ordem da Escala espírita. O Espírito pode progredir sem nunca ter feito uma má escolha, sem nunca ter feito o mal.

Segundo as características das três ordens da Escala Espírita em O Livro dos Espíritos [22], temos:

·       Terceira ordem. – Espíritos imperfeitos.
101. Características gerais. – Predominância da matéria sobre o espírito. Propensão para o mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as paixões que lhes são consequentes.
 
·       Segunda ordem. – Espíritos bons.
107. Características gerais. – Predominância do espírito sobre a matéria; desejo do bem. Suas qualidades e poderes para o bem estão em relação com o grau de adiantamento que haja alcançado; uns têm a ciência, outros a sabedoria e a bondade.
 
·       Primeira ordem. – Espíritos puros.
112. Características gerais. – Nenhuma influência da matéria. Superioridade intelectual e moral absoluta, com relação aos Espíritos das outras ordens.

De posse dessas características vejamos agora o esclarecimento dado por Kardec e os Espíritos, neste mesmo capítulo, sobre progredir sempre no caminho do bem:

“124. Pois que há Espíritos que desde o princípio seguem o caminho do bem absoluto e outros o do mal absoluto, deve haver, sem dúvida, gradações entre esses dois extremos, não?
Sim, certamente; os casos intermediários constituem a grande maioria.”

Essa resposta é isenta de ambiguidade. Ela deixa claro que o Espírito, capaz de decidir e fazer escolhas, pode:

  • Nunca errar nas provas; nunca ser considerado Espírito imperfeito da Terceira ordem e permanecer sempre no caminho reto do bem até ser considerado Espírito bom;
  • Errar na primeira prova ou em provas posteriores; entrar na Terceira ordem e ser considerado Espírito imperfeito; desviar-se do caminho do bem e atrasar-se no caminho que o levará ao estado de Espírito bom.

Vencer a influência da matéria é progredir, é agir com CONSCIÊNCIA. Vencer essa influência é educar os sentimentos e desejos para não adquirir e desenvolver as más paixões, ou mesmo para eliminar as que já adquirimos ao longo de encarnações passadas. É resistir às más paixões, à influência da matéria, às tentações.

É sobre essa resistência, essa vontade, esse esforço em resistir as tentações, que Jesus nos dá o ensinamento da porta estreita. Passar pela porta estreita exige obediência, abnegação, resignação e esforço para controlar as paixões e não deixar que elas nos controlem. Passar pela porta larga é não resistir às paixões e ceder aos desejos descontrolados, adquirindo vícios morais.

Só com as provas materiais, quando encarnados, progredimos na escala evolutiva* à proporção que vencemos a influência da matéria. É o processo de desmaterialização que acontece à proporção que resistimos aos desejos e sentimentos próprios das más paixões.

*Escala evolutiva é a escala de progresso e não a escala espírita.

Vejamos o seguinte texto de Allan Kardec, contido em A Gênese, cap. XI, item 26 [23]:

“À medida que progride moralmente, o Espírito se desmaterializa, isto é, depura-se, com o subtrair-se à influência da matéria; sua vida se espiritualiza, suas faculdades e percepções se ampliam; sua felicidade se torna proporcional ao progresso realizado. Entretanto, como atua em virtude do seu livre-arbítrio, pode ele, por negligência ou má vontade, retardar o seu avanço.”

Encontramos a mesma essência desse ensinamento na instrução seguinte da Revista Espírita – agosto de 1867 [24]:

“Como sabeis, cada ser tem a liberdade do bem e do mal, o que chamais de livre-arbítrio. O homem tem em si sua consciência que o adverte quando fez o bem ou fez o mal, cometeu uma ação má ou negligenciou de fazer o bem; sua consciência que, como guarda vigilante encarregada de velar por ele, aprova ou desaprova sua conduta. Muitas vezes acontece que ele se mostre rebelde à sua voz, que repila as suas inspirações; que queira abafá-la pelo esquecimento, mas nunca ela é completamente aniquilada para que num dado momento não desperte mais forte e mais poderosa e não exerça um severo controle de vossas ações.”

E a questão 115 de O Livro dos Espíritos [25], resume, impecavelmente, o plano de Deus para todos nós:

“115. Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus?
“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, e para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe, os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa ao seu destino final. Outros só as suportam murmurando e assim, por sua culpa, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade.”

A verdade são as leis de Deus, que regem Sua criação (o universo físico e moral).

A submissão é o cumprimento às leis de Deus. É o esforço para resistirmos às más influências. É a passagem pela porta estreita.

O murmúrio se traduz na rebeldia às leis de Deus, à entrada pela porta larga, pela aquisição de más paixões, pelas escolhas erradas e pela negligência à consciência. É assim que passamos a ser considerados Espíritos Imperfeitos.

Aos Espíritos Imperfeitos, vivendo em um mundo de expiações e provas, devido aos vícios morais, como inveja, ciúme, raiva, egoísmo, vaidade, avareza, mentira, mágoa, deslealdade, etc., cabe todo o esforço necessário, a custo de toda resignação, lutar e vencer seus vícios, na certeza de que nossa vida futura será mais ou menos feliz mediante o que nesta vida conquistarmos de virtudes e conhecimentos.

Seguem dois textos que resumem a nossa caminhada de progresso, plano divino para todos nós:

1. Complemento do texto da Revista Espírita de maio de 1861, que mencionamos no início deste artigo:

“No momento de sua criação, os Espíritos não são imperfeitos senão do ponto de vista do desenvolvimento intelectual e moral, como a criança ao nascer; como o germe contido no grão da árvore. Mas não são maus por natureza. Ao mesmo tempo que neles se desenvolve a razão, o livre-arbítrio em virtude do qual escolhem uns o bom caminho e outros o mau, faz que uns cheguem ao objetivo mais cedo que outros. Mas todos, sem exceção, devem passar pelas vicissitudes da vida corpórea, a fim de adquirir a experiência e de ter o mérito da luta. Ora, nessa luta uns triunfam e outros sucumbem, mas os vencidos podem sempre reerguer-se e resgatar as suas derrotas.”

           2. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVIII, item 5 [26]:

   “Larga é a porta da perdição, porque são numerosas as paixões más e porque o maior número envereda pelo caminho do mal. É estreita a da salvação, porque a grandes esforços sobre si mesmo é obrigado o homem que a queira transpor, para vencer suas más tendências, coisa a que poucos se resignam. É o complemento da máxima: ‘Muitos são os chamados e poucos os escolhidos’.

     "Tal o estado da Humanidade terrena, porque, sendo a Terra mundo de expiação, nela predomina o mal. Quando se achar transformada, a estrada do bem será a mais frequentada. Aquelas palavras devem, pois, entender-se em sentido relativo e não em sentido absoluto. Se houvesse de ser esse o estado normal da Humanidade, teria Deus condenado à perdição a imensa maioria das suas criaturas, suposição inadmissível, desde que se reconheça que Deus é todo justiça e bondade.”

E encerramos este artigo sobre O SURGIMENTO DO MAL EM NÓS com a questão 129 do livro O que é o Espiritismo [27], evidenciando o saber admirável daqueles Espíritos que, juntamente com Kardec, nos deram o conhecimento da mais completa e perfeita filosofia da nossa humanidade:

“Deus não criou o mal; ele estabeleceu leis, e estas são sempre boas, porque ele é soberanamente bom; aquele que as observasse fielmente seria perfeitamente feliz; porém, os Espíritos, tendo seu livre-arbítrio, nem sempre as observam, e é dessa infração que provém o mal.”

 



[1] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/338/parte-segunda-do-mundo-espirita-ou-mundo-dos-espiritos/capitulo-i-dos-espiritos/origem-e-natureza-dos-espiritos/81
[2]  Todos os grifos são nossos.
[3] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/895/revista-espirita-jornal-de-estudos-psicologicos-1861/4984/maio/questoes-e-problemas-diversos
[4] Conforme a q.76 OLE o Espírito (com letra E maiúscula) se refere “para designar as individualidades dos seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente universal (espírito)”.
[5] https://mail.kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/898/revista-espirita-jornal-de-estudos-psicologicos-1864/5539/marco
[6] https://kardecpedia.com/pt/roteiro-de-estudos/897/revista-espirita-jornal-de-estudos-psicologicos-1863/5435/junho/do-principio-da-nao-retrogradacao-do-espirito
[7] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/1101/parte-terceira-das-leis-morais/capitulo-i-da-lei-divina-ou-natural/conhecimento-da-lei-natural/621
[8] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/885/o-que-e-o-espiritismo/1460/capitulo-iii-solucao-de-alguns-problemas-pela-doutrina-espirita/o-homem-durante-a-vida-terrena/127
[9]https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/888/a-genese-os-milagres-e-as-predicoes-segundo-o-espiritismo/3933/a-genese/capitulo-xi-genese-espiritual/encarnacao-dos-espiritos/23
[10] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/3110/parte-terceira-das-leis-morais/capitulo-vi-5-lei-de-destruicao/crueldade/754
[11] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/901/revista-espirita-jornal-de-estudos-psicologicos-1867/6144/agosto/jean-ryzak-a-forca-do-remorso
[12] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/569/parte-segunda-do-mundo-espirita-ou-mundo-dos-espiritos/capitulo-vi-da-vida-espirita/escolha-de-provas/258 
[13] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/570/parte-segunda-do-mundo-espirita-ou-mundo-dos-espiritos/capitulo-vi-da-vida-espirita/escolha-de-provas/258/258-a
[14] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/887/o-evangelho-segundo-o-espiritismo/2202/capitulo-iv-ninguem-podera-ver-o-reino-de-deus-se-nao-nascer-de-novo/instrucoes-dos-espiritos/necessidades-da-encarnacao/25
[15] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/888/a-genese-os-milagres-e-as-predicoes-segundo-o-espiritismo/3934/a-genese/capitulo-xi-genese-espiritual/encarnacao-dos-espiritos/24
[16] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/36/introducao-ao-estudo-da-doutrina-espirita/vi
[17] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/86/parte-terceira-das-leis-morais/capitulo-v-4-lei-de-conservacao
[18] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/234/parte-terceira-das-leis-morais/capitulo-xii-da-perfeicao-moral/as-paixoes
[19]   O filósofo René Descartes em seu livro AS PAIXÕES DA ALMA, define seis paixões básicas sentidas pela alma, com objetivo de relacioná-las com o grau de moralidade, mediante o seu uso. Essas seis paixões básicas são a admiração, o amor, o ódio, o desejo, a alegria e a tristeza. Descartes ainda relaciona outras paixões que derivam da intensidade e da combinação destas seis principais, em relação ao uso que é feito para o bem ou para o mal.
[20] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/384/parte-segunda-do-mundo-espirita-ou-mundo-dos-espiritos/capitulo-i-dos-espiritos/progressao-dos-espiritos/122
[21] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/386/parte-segunda-do-mundo-espirita-ou-mundo-dos-espiritos/capitulo-i-dos-espiritos/progressao-dos-espiritos/123
[22] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/114/parte-segunda-do-mundo-espirita-ou-mundo-dos-espiritos/capitulo-i-dos-espiritos/escala-espirita
[23]  https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/888/a-genese-os-milagres-e-as-predicoes-segundo-o-espiritismo/3936/a-genese/capitulo-xi-genese-espiritual/encarnacao-dos-espiritos/26
[24] https://kardecpedia.com/busca?q=Como+sabeis%2C+cada+ser+tem+a+liberdade+do+bem+e+do+mal%2C+o+que+chamais+de+livre-arb%C3%ADtrio.+O+homem+tem+em+si+sua+consci%C3%AAncia+que+o+adverte+quando+fez+o+bem+ou+fez+o+mal
[25] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/376/parte-segunda-do-mundo-espirita-ou-mundo-dos-espiritos/capitulo-i-dos-espiritos/progressao-dos-espiritos/115
[26] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/887/o-evangelho-segundo-o-espiritismo/2529/capitulo-xviii-muitos-os-chamados-poucos-os-escolhidos/a-porta-estreita/5
[27] https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/885/o-que-e-o-espiritismo/1462/capitulo-iii-solucao-de-alguns-problemas-pela-doutrina-espirita/o-homem-durante-a-vida-terrena/129